No dia 31 de outubro, celebra-se o Dia Mundial das Cidades, data que reflete sobre o papel que os centros urbanos desempenham no desenvolvimento sustentável e na vida humana, além das contradições que eles abrigam.
A América do Sul é hoje a região mais urbanizada do planeta, com 86% da população vivendo em cidades. O número impressiona quando comparado à média global de 58%. Em países como o Brasil, esse índice chega a 88%, reflexo de um processo acelerado de urbanização que se intensificou a partir do século XX, com a expansão industrial e a busca por oportunidades de trabalho nas metrópoles.
Mas esse crescimento rápido não veio acompanhado de planejamento ou infraestrutura. Sem o apoio do Estado, muitas famílias precisaram construir suas próprias moradias, ocupando áreas periféricas e precárias.
Esse processo de urbanização desigual, marcado pela ausência de políticas públicas, resultou em cidades desiguais e fragmentadas, em que bairros populares convivem lado a lado com condomínios de luxo e zonas de alto valor imobiliário.
Essas transformações também impulsionaram o fenômeno da gentrificação, que ocorre quando áreas centrais e antigas passam por processos de “revitalização” e aumento do valor imobiliário, expulsando os moradores originais de baixa renda. Em nome da modernização, muitos espaços urbanos são remodelados para atender a interesses econômicos, transformando o lugar de moradia popular em mercadoria.
Esse processo, comum em grandes cidades brasileiras, reforça o ciclo de exclusão e afasta ainda mais as populações vulneráveis dos centros, concentrando oportunidades e infraestrutura nas regiões mais valorizadas.
É nesse contexto que o filósofo francês Henri Lefebvre formulou o conceito de “direito à cidade”, defendendo que viver em um espaço urbano vai além do simples ato de morar, é ter o direito de participar da vida urbana, usufruir de seus benefícios e transformá-la coletivamente. Quando esse direito é negado, cria-se uma dinâmica excludente, em que o acesso à cidade se torna um privilégio.
Em metrópoles como São Paulo, por exemplo, diversos trabalhadores que moram na periferia passam horas em longas viagens de ônibus e metrô todos os dias para chegar ao trabalho e depois voltar para casa, porque os locais de emprego, lazer e estudo raramente estão nos bairros onde vivem. Essa distância física e simbólica revela como o espaço urbano ainda é marcado por desigualdades e pela negação de direitos básicos.
Pensando nisso, o Portal EV separou livros e filmes que ajudam a entender como a desigualdade urbana se manifesta no Brasil, e que ainda podem servir como repertório sociocultural nas redações dos vestibulares. Confira!
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Livros que retratam a desigualdade urbana no Brasil
Capitães da Areia (1937), de Jorge Amado
Ambientado em Salvador, o romance acompanha um grupo de meninos de rua que vivem de pequenos furtos e tentam sobreviver à margem da sociedade. Jorge Amado denuncia a ausência de políticas públicas e a exclusão que empurra crianças e adolescentes para a criminalidade, um retrato contundente da desigualdade que marca as cidades brasileiras.
Quarto de Despejo (1960), de Carolina Maria de Jesus
Baseado no diário real da autora, o livro revela o cotidiano de uma mulher negra e catadora de papel que vive na favela do Canindé, em São Paulo. Com linguagem simples, Carolina expõe as privações, o preconceito e a luta pela sobrevivência, transformando a própria vida em denúncia social.
O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo
O romance, clássico do Naturalismo, retrata a vida em um cortiço no Rio de Janeiro do século XIX, onde o ambiente e as condições de pobreza determinam o destino dos personagens.
Ao mostrar como a miséria e a exploração moldam o comportamento humano, Azevedo faz uma crítica estrutural às desigualdades urbanas que, mesmo antigas, permanecem atuais.
Não Verás País Nenhum (1981), de Ignácio de Loyola Brandão
Em uma São Paulo distópica e degradada, o autor imagina um futuro em que o colapso ambiental e social transformou a cidade em um espaço inóspito e desigual. A obra funciona como uma metáfora da desumanização das metrópoles e da indiferença diante da injustiça social.
Eles Eram Muitos Cavalos (2001), de Luiz Ruffato
Com uma narrativa fragmentada que reúne dezenas de personagens em um único dia na cidade de São Paulo, o livro mostra as múltiplas faces da vida urbana, da elite isolada à população marginalizada. Ruffato constrói um mosaico de desigualdades, dando voz a quem raramente é ouvido.
Filmes que retratam a desigualdade urbana no Brasil
Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles e Kátia Lund
Baseado no livro homônimo de Paulo Lins, o filme, um dos filmes mais internacionalmente reconhecidos do cinema brasileiro, retrata o crescimento do crime organizado na favela Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, entre as décadas de 1960 e 1980. A obra destaca a ausência do Estado e o ciclo de violência que nasce da exclusão social.
Central do Brasil (1998), de Walter Salles
A relação entre Dora, uma ex-professora que escreve cartas para analfabetos, e Josué, um menino órfão, revela diferentes realidades do país. O contraste entre o urbano e o interior, o afeto e a solidão, evidencia como a desigualdade atravessa o território e as vidas dos brasileiros.
O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho
Ambientado em um bairro de classe média no Recife (PE), o filme explora as tensões entre patrões e empregados, ricos e pobres, dentro de um mesmo espaço urbano. A sensação constante de medo e vigilância revela como a desigualdade e o passado colonial ainda estruturam as relações sociais nas cidades.
Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Misturando realismo e ficção científica, o longa retrata Bacurau, uma comunidade nordestina esquecida pelo poder público, que passa a receber eventos estranhos: chegada de estrangeiros, passeio de drones e mortes de moradores locais. A partir disso, toda a população se organiza para se defender e descobrir o que está acontecendo.
A obra é uma alegoria sobre o abandono das periferias e a força coletiva dos que lutam por dignidade.
Saneamento Básico (2007), de Jorge Furtado
A história do filme se passa em Linéia, uma comunidade fictícia no interior do Rio Grande do Sul, onde os moradores enfrentam um problema urgente: a falta de saneamento básico. A comédia satiriza a burocracia e a falta de investimento em infraestrutura nas pequenas cidades brasileiras.
Ao buscarem ajuda na prefeitura, descobrem que há verba disponível apenas para a produção de um filme, e não para a construção do esgoto. Diante da situação, decidem criar uma obra cinematográfica sobre o tema para conseguir liberar o dinheiro.
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