A fenomenologia e as teorias do conhecimento: a revolução do pensar

A fenomenologia e as teorias do conhecimento: a revolução do pensar

Entenda mais sobre as mudanças no jeito de pensar e as novas formas de encarar a realidade com as fenomenologias desenvolvidas no século XX

O século XX foi palco de uma verdadeira revolução na forma como o ser humano compreende a realidade e a si mesmo. No campo da filosofia, as certezas inabaláveis da ciência moderna e do racionalismo clássico começaram a ruir.

É neste cenário de incertezas e de busca por novos sentidos que surge a Fenomenologia e novas Teorias do Conhecimento, entenda mais com o artigo a seguir do Estratégia Vestibulares.

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O contexto da Crise de Paradigmas

Para entender a Fenomenologia, precisamos primeiro entender o problema que ela tentou resolver. Até o final do século XIX, o pensamento ocidental estava dominado por duas grandes correntes que, embora opostas, compartilhavam uma limitação: o distanciamento excessivo entre o sujeito (quem conhece) e o objeto (o que é conhecido).

A Fenomenologia deve ser encarada não apenas como uma escola filosófica, mas como um método de abordagem da realidade.

Filosofia do Século XX

De um lado, tínhamos o Positivismo e o cientificismo, que acreditavam que a ciência objetiva poderia explicar tudo, reduzindo o ser humano a dados biológicos ou sociais. Do outro, o Racionalismo Clássico e o Idealismo, que focavam tanto na mente e nas ideias que, por vezes, esqueciam a realidade concreta da vida vivida.

Havia uma insatisfação generalizada. O mundo estava mudando rapidamente, as guerras mundiais se aproximavam, e a filosofia fria e calculista do Positivismo parecia incapaz de explicar a angústia, a experiência e a subjetividade humana.

O Problema da Subjetividade e Objetividade

A grande falha das teorias anteriores (como o empirismo e o racionalismo) era tratar o conhecimento como se o sujeito fosse um espelho passivo refletindo o mundo, ou como se o mundo fosse apenas uma criação da mente.

A Fenomenologia surge, então, como uma tentativa de reunificação. Ela propõe que não existe um “mundo lá fora” separado de um “eu aqui dentro”. Sujeito e mundo estão intrinsecamente conectados, eles se complementam.

Edmund Husserl: O Pai da Fenomenologia Transcendental

O matemático e filósofo Edmund Husserl foi o pioneiro dessa revolução. Ele percebeu que a ciência estava perdendo o contato com a vida humana e propôs uma reformulação radical do saber.

A máxima de Husserl, “Zu den Sachen selbst!” (“De volta às coisas mesmas!”), é frequentemente mal interpretada. Quando ele diz “coisas”, ele não está falando de objetos físicos, como uma cadeira ou uma pedra. Ele está falando do fenômeno.

Fenômeno é tudo aquilo que se manifesta à consciência. Voltar às coisas mesmas significa ignorar as teorias pré-concebidas, as explicações científicas abstratas e as crenças religiosas, para focar exclusivamente em como a realidade aparece para a nossa consciência, aqui e agora.

O Conceito Central: Intencionalidade da Consciência

Husserl derruba a ideia de que a consciência é uma “caixa vazia” onde as coisas entram. Para ele, toda consciência é consciência de algo.

Não existe “pensar” sem pensar em algo, não existe “amar” sem amar alguém e não existe “medo” sem ter medo de algo. A consciência é, por natureza, intencional, como uma seta lançada em direção ao mundo. Eliminando a dualidade sujeito-objeto, pois prova que a mente humana só existe em relação com o mundo.

A Intencionalidade é um conceito chave para discutir a construção da realidade. Numa redação sobre manipulação midiática, por exemplo, pode-se argumentar que a consciência é direcionada e que a mídia filtra como o fenômeno é apresentado a nós, alterando a percepção da verdade.

O Método: a Época e a Redução Fenomenológica

E como aplicar isso na prática? Husserl propõe um método:

  • Época (Suspensão do Juízo): Também chamada de “colocar o mundo entre parênteses”. Não significa negar que o mundo existe, mas sim suspender nossa crença ingênua na existência das coisas para focar em como elas aparecem para nós. É deixar de perguntar “isso é real?” e perguntar “o que isso significa para mim?”;
  • Redução Fenomenológica: Após a Epoché, o filósofo realiza a redução, que é o processo de descascar as camadas da experiência (preconceitos, opiniões) até chegar à essência do fenômeno, ou seja, aquilo que faz a coisa ser o que ela é na nossa consciência.

A Fenomenologia Existencial: Heidegger e Merleau-Ponty

Enquanto Husserl focava na consciência pura, seus sucessores levaram a fenomenologia para o chão da vida concreta. Aqui, a teoria se torna prática e existencial.

Heidegger e o Ser-aí

Martin Heidegger, aluno de Husserl, promoveu uma reviravolta. Ele não estava interessado apenas em como conhecemos, mas em como existimos.

  • Dasein (Ser-aí): O ser humano não é um “sujeito racional”; ele é um Dasein, um ser que está “lançado” no mundo. Não somos espectadores da realidade, mas sim parte integrante dela; e
  • Ser-no-mundo: Este conceito rompe com o isolamento. Existir é estar ocupado com o mundo, relacionando-se com objetos e com outros seres.

Heidegger distingue dois modos de viver: a Existência Autêntica, quando o indivíduo assume a responsabilidade por suas escolhas e encara sua finitude, e a Existência Inautêntica, quando ele se dissolve na massa, no “falatório”, seguindo o comportamento de manada para fugir da angústia. 

Esse conceito é extremamente útil em redações do Enem sobre comportamento social, redes sociais, consumismo e a busca por sentido no século XXI, pois revela como muitos evitam o confronto com si mesmos e vivem de forma superficial e padronizada.

Merleau-Ponty e a Fenomenologia da Percepção

Maurice Merleau-Ponty trouxe a fenomenologia para a materialidade do corpo, afirmando que não apenas temos um corpo, mas somos nosso corpo. Para ele, o corpo não é um simples objeto biológico estudado pela medicina, mas o nosso ponto de vista sobre o mundo. 

É por meio dele que percebemos, agimos e nos inserimos na realidade. Assim, ele redefine a noção de sujeito, colocando a experiência corporal como o centro da existência e da relação com o ambiente.

O conceito de “carne” é central em sua filosofia: o conhecimento não é apenas intelectual, mas corporal. Percebemos o mundo através das sensações, movimentos e interações físicas. Assim, a “carne” é o tecido comum entre corpo e mundo, mostrando que percepção e realidade estão profundamente entrelaçadas.

Essa visão conecta-se fortemente à arte e à estética. Merleau-Ponty é associado a obras como as pinturas de Cézanne para mostrar que a arte não copia o real, mas torna visível a forma como sentimos o mundo antes de refletirmos sobre ele. 

A visão do artista é fenomenológica porque captura a essência da percepção e a experiência sensível que antecede qualquer interpretação racional.

Teoria do Conhecimento no Século XX: O Diálogo com Outras Correntes

A Fenomenologia não surgiu isoladamente; ela dialogou diretamente com outras correntes que também buscavam rigor científico.

O Neopositivismo do Círculo de Viena seguiu uma direção oposta à fenomenologia. Enquanto Husserl procurava a “essência vivida”, os neopositivistas defendiam uma linguagem científica perfeita e livre de ambiguidades.

Seu principal critério era o da verificabilidade: uma proposição só tem sentido se puder ser comprovada empiricamente. Assim, ideias sobre “essência”, “alma” ou “o nada”, típicas de Heidegger, eram consideradas sem sentido lógico.

Nesse confronto, o rigor analítico do empirismo lógico se opunha à profundidade existencial da fenomenologia, marcando um embate entre clareza técnica e experiência subjetiva.

Outra crítica veio de Karl Popper, com o Racionalismo Crítico. Ele discordou do positivismo, mas por outro caminho.

Popper rejeitou a indução e afirmou que a ciência avança tentando falsear teorias, e não provando que são verdadeiras. Uma teoria só é científica se puder ser testada e, potencialmente, refutada.

O contraste com a fenomenologia é claro: Husserl busca a verdade pela introspecção e pela análise da consciência, já Popper aposta na crítica pública e nos testes empíricos.

São, portanto, duas formas distintas de validar o conhecimento, uma interna e experiencial, outra externa e crítica.

Apesar das divergências entre fenomenólogos e racionalistas críticos, o grande legado do pensamento do século XX foi mostrar que a realidade é complexa e exige múltiplos olhares. 

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