Literatura portuguesa: o que é, importância e principais correntes

Literatura portuguesa: o que é, importância e principais correntes

A história do Brasil está, em muitas partes, relacionada com os acontecimentos históricos de Portugal, por conta das relações coloniais estabelecidas. Tal relação se repete também em outros campos do conhecimento, por exemplo: a literatura portuguesa é importante para a compreensão da língua mais falada em nosso país.

Neste texto você encontra as principais informações sobre as correntes literárias de Portugal, escritos com mais de 8 séculos de história que marcam a Língua Portuguesa com suas obras clássicas, como Os Lusíadas e os Sonetos de Camões. Acompanhe para saber mais!

Aspectos gerais da literatura portuguesa

O fazer literário português é dividido historicamente em três grandes períodos: medieval, clássico e moderno. Cada uma dessas fases possui peculiaridades próprias que as caracterizam.

Grande parte das escolas literárias portuguesas têm nomes ou propriedades semelhantes às correntes que aparecem no Brasil. Momentos como o classicismo, o barroco e o arcadismo aconteceram tanto no continente americano, como em solo europeu.

Aos escritos da língua portuguesa, de origem europeia, americana ou africana, dá-se o nome de literatura lusófona. Essa equivalência linguística permite que muitos dos livros lusitanos estejam em solo brasileiro, assim como os livros brasileiros que fazem sucesso em Portugal.

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Origem da literatura portuguesa

No século XII, os árabes foram expulsos da Península Ibérica, naquele contexto formou-se o Estado Português, ainda repleto de influência cultural e política da Galícia, uma região que hoje pertence à Espanha. 

Devido a essa integração, os primeiros escritos da literatura portuguesa foram registrados em galego-português e foram construídos por volta do século XII. Os poetas mais marcantes dessa época são Paio Soares de Taveirós e João Soares de Paiva, dois trovadores importantes.

Era medieval

A Era Medieval da literatura portuguesa abrange duas grandes correntes literárias: o trovadorismo, também chamado de “primeira época”, e o humanismo, que é conhecido por “segunda época” da era medieval.

Trovadorismo 

O trovadorismo aconteceu entre o século XII e XV, em território português. As obras desse período são chamadas de cantigas, pois eram cantadas e transmitidas entre as gerações — isso demonstra um caráter social, histórico e afetivo dos textos trovadorescos.

As cantigas de amor e de amigo tinham uma função mais lírica, abordando temas como o sofrimento amoroso, a saudade da pessoa amada, entre outros. As que tinham um cunho mais crítico foram classificadas como cantigas satíricas. 

Veja um exemplo de cantiga de amor, com as variações linguísticas causadas pela mistura entre o português e o galego:

Cantiga “A dona que eu am’e tenho” 

A dona que eu amo e tenho por Senhor
amostra-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.

A que tenh’eu por lume d’estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.

Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.

A Deus, que me-a fizestes mais amar,
mostrade-me-a algo possa con ela falar,
se non dade-me-a morte.

Bernardo de Bonaval

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Humanismo 

Entre o fim do período trovadoresco e o surgimento da Era Clássica, houve uma corrente literária de transição: o humanismo. Contemporâneo ao renascimento cultural, o movimento humanista trouxe para a literatura portuguesa a poesia palaciana.

Nesse contexto, escritos como Fernão Lopes e Gil Vicente alcançaram o auge de suas carreiras. Textos como “O Monólogo do Vaqueiro” e as crônicas únicas de Fernão marcaram o período medieval em sua fase final.

Era Clássica

A Era Clássica surge quando o renascimento e o iluminismo estão em ascensão no continente europeu. As transformações que aconteciam na sociedade se refletiam no fazer literário dos autores, que assumiram posturas mais curiosas frente ao mundo, para os padrões de sua época.

Classicismo

O culto aos padrões da Antiguidade Clássica foi a característica mais marcante desse momento literário, que deu nome à escola. Nesse caso, os ideais platônicos eram retomados nas obras, abordando temas como o amor em um ponto de vista menos filosófico e mais sensual, para os padrões da época.

O sentimento nacionalista também influenciou os autores, por exemplo, Luís de Camões escreveu o soneto “Os Lusíadas”, que narra conquistas portuguesas de maneira épica, baseado nos poemas heroicos gregos. A seguir, você encontra um trecho da obra:

Canto VII

Já se viam chegados junto à terra
Que desejada já de tantos fora,
Que entre as correntes Indicas se encerra
E o Ganges, que no Céu terreno mora.

Ora sus, gente forte, que na guerra
Quereis levar a palma vencedora:
Já sois chegados, já tendes diante
A terra de riquezas abundante!

Outro grande nome do período foi Sá de Miranda, responsável por implantar o “doce estilo novo” para as métricas dos poemas literários portugueses. 

Barroco ou seiscentismo

Outra escola literária que marcou a Era Clássica da literatura portuguesa foi o barroco, ou também chamado de seiscentismo, já que aconteceu principalmente no século XVII (anos 1600).

Os textos abordam temas como conflitos sociais e religiosos, a partir de conceitos abstratos, vocabulário rebuscado e argumentação marcada. Os principais nomes são Antônio José da Silva, Frei Luís de Souza e o Padre Antônio Vieira — este último também faz parte da história literária brasileira com sua obra “Os Sermões”, acompanhe a resolução de uma questão da UNICAMP sobre o assunto:

“O vento da vida, por mais que cresça, nunca pode chegar a ser bonança; o vento da fortuna pode chegar a ser tempestade, e tão grande tempestade, que se afogue
nela o mesmo vento da vida.”

(Antônio Vieira, “Sermão de quarta-feira de cinza do ano de 1672”, em A Arte de Morrer. São Paulo: Nova Alexandria, 1994, p. 56.)

No sermão proferido na Igreja de Santo Antônio dos Portugueses, em Roma, Vieira recorre a uma metáfora para chamar a atenção dos fiéis sobre a morte.

Assinale a alternativa que expressa a mensagem veiculada pela imagem do vento.

a) A vida dos fiéis é comparável à tranquilidade da brisa em alto-mar.
b) A fortuna dos fiéis é comparável à força das intempéries marítimas.
c) A fortuna dos fiéis é comparável à felicidade eterna.
d) A vida dos fiéis é comparável à ventura dos navegadores.

Os textos do barroco português, como o de Pe. Antônio Vieira e outros autores, são marcados por uma argumentação complexa. No trecho acima, o escritor aborda a brevidade e complexidade da vida em sua existência, em um olhar mais conformista em relação às dificuldades enfrentadas. Para isso, ele utiliza figuras de linguagem como a comparação e a metáfora.

Ao mesmo tempo, ele propõe que a fortuna pode ser um fator negativo na vida das pessoas, podendo levá-las à destruição. Dessa forma, a alternativa que melhor responde ao enunciado é a letra B.

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Setecentismo ou arcadismo

A próxima escola da literatura portuguesa é o arcadismo, que ficou muito marcado nos anos 1700, por isso a nomenclatura “setecentismo”. O declínio da Arcádia Lusitana está intimamente relacionado com o surgimento do romantismo.

Nessa corrente literária, são citadas muitas figuras da mitologia grega. A visão do pastor em ambiente campesino, cercado de elementos mitológicos representa a vida desejada pelos arcadistas. Autores como António Dinis da Cruz e Silva, Bocage e Manuel Nicolau Esteves Negrão estão entre os nomes mais citados do período. 

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Era Moderna

Romantismo

O romantismo é uma escola da literatura portuguesa que surgiu no ano de 1825, quando Portugal passava por profundas transformações sociais e políticas, com a Revolução Francesa e a Era Napoleônica, que repercutiram por toda a Europa.

A incerteza, instabilidade, insatisfação, melancolia e angústias do contexto aparecem nos escritos. Outros temas abordados são o amor e a nostalgia, compostos em um vários gêneros literários. 

Os nomes mais citados da corrente são Almeida Garret, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, entre outros famosos escritores. Veja, a seguir um trecho do poema “Camões”, de Garret, um dos pioneiros da corrente literária em Portugal:

“Vem; não receies a acintosa mofa
Desta volúvel, leviana gente:
Não te conhecem eles. – Eia, vamos!

Deixa o caminho da infeliz Pirene:
Tais mágoas, como aí vão, poupa a meus olhos;
Assaz tenho das minhas”

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Realismo e naturalismo

O autor do realismo português mais famoso é Antero de Quental. Contrários às idealizações dos românticos, os realistas abordavam a vida de uma maneira mais incisiva, às vezes pessimista. Para trazer essa visão em suas obras, eles utilizavam uma linguagem mais objetiva, repleta de conteúdos cientificistas. 

Como uma ramificação do naturalismo, escritores como Eça de Queirós desenvolveram obras literárias que focavam em personagens marginalizados, além de adicionar um componente orgânico, instintivo, irracional aos desejos humanos. 

Veja, a seguir, um exemplo de questão sobre o assunto:

(UFRG) Leia o trecho abaixo, extraído do romance O Primo Basílio, de Eça de Queirós.

“Estavam parados ao pé da confeitaria. Na vidraça, por trás deles, emprateleirava-se uma exposição de garrafas de malvasia com os seus letreiros muito coloridos, transparências avermelhadas de gelatinas, amarelidões enjoativas de doces de ovos, e queques de um castanho-escuro tendo espetados cravos tristes de papel branco ou cor-de-rosa. Velhas natas lívidas amolentavam-se no oco dos folhados; ladrilhos grossos de marmelada esbeiçavam-se ao calor; as empadinhas de marisco aglomeravam as suas crostas ressequidas.”

Com relação a este trecho, assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do enunciado abaixo, na ordem em que aparecem.

No trecho do romance, percebe-se a preocupação do escritor com a …….. dos pormenores do ambiente, característica própria do estilo …….. . Termos como “enjoativas”, “tristes” e “ressequidas”, empregados neste contexto, concretizam a visada …….. que o narrador expressa sobre a sociedade lisboeta.

a) Descrição – realista – crítica
b) Narração – impressionista – crítica
c) Descrição – realista – nostálgica
d) Narração – realista – nostálgica
e) Descrição – impressionista – crítica

No texto, o autor opta por descrever os detalhes do ambiente. Mas dada a escola literária a que pertence, a caracterização traz um cunho irônico, com palavras que indicam o teor crítico perante a sociedade em questão.

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Parnasianismo

Paralelo aos movimentos literários naturalista e realista, acontecia o parnasianismo português, principalmente na pessoa do poeta João Penha. Assim como na literatura brasileira, os parnasianos portugueses produziam em função do lema “arte pela arte”, quando todos os componentes reflexivos e críticos são retirados da obra. 

Outros nomes citados nessa corrente são Antônio de Castro Feijó e Antônio Cândido Gonçalves Crespo.

Simbolismo

Entre 1890 e 1915, ascendeu na literatura portuguesa uma escola conhecida como simbolismo — contrários à objetividade, cientificidade e ao materialismo, os simbolistas focam suas obras naquilo que é transcendental, subjetivo, imaginativo, criativo e musical. 

António Nobre, Camilo Pessanha e Eugênio de Castro são os mais marcantes escritores da época. Leia um soneto de Camilo Pessanha, que adicionou musicalidade e cores para um texto escrito:

Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
pontes aladas
De pesadelo…

De que esvoaçam,
brancos, os arcos.
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.

Fundas, soluçam
Caudais de choro…
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro! (…)

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Modernismo português

O modernismo, na literatura portuguesa, surge logo após o declínio do simbolismo. A ideia principal dos modernistas, em todo o contexto artístico, consiste na quebra dos padrões acadêmicos e maior liberdade de expressão do artista em suas obras.

Oinício do movimento deu-se com o lançamento da Revista Orpheu, quando artistas como Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro decidiram publicar conteúdos inovadores e irreverentes com a realidade da época. 

Acompanhe agora a resolução de uma questão sobre Fernando Pessoa, o autor mais expressivo do período. 

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Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

A palavra título indica que:

a) o texto apresentará a visão do eu lírico sobre os outros com quem convive.
b) o poema tecerá considerações sobre a subjetividade do próprio eu lírico.
c) o texto discutirá a formação do leitor.
d) o poema dialogará com os leitores em potencial.
e) o poema tecerá considerações sobre o amor.

Apenas o prefixo “auto” já confere uma visão importante sobre o tema da obra: o eu lírico relatará sobre suas próprias faculdades mentais, pensamentos — no caso, essas ideias foram transferidas para o papel. Assim, a melhor resposta para o enunciado é a alternativa B.

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