Muito além do drama, a Tragédia no teatro combina arte, filosofia e política e por isso é um gênero teatral de grande relevância para as questões de Literatura dos vestibulares. Entender a Tragédia é essencial para interpretar textos, identificar estruturas narrativas e reconhecer dilemas éticos que atravessam os séculos.
Pensando nisso, o Estratégia Vestibulares preparou um guia completo com tudo o que você precisa saber: origem, características, estrutura, autores e os conceitos-chave da Tragédia. Confira!
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O que é a Tragédia?
A Tragédia é um gênero dramático antigo que retrata a queda ou o sofrimento de um protagonista de elevado status devido a falhas pessoais ou forças maiores, como o destino ou os deuses.
Segundo Aristóteles, em sua Poética (século IV a.C.), a Tragédia é a “imitação de uma ação de caráter elevado, completa e de certa extensão, […] que, suscitando o terror e a piedade, tem por efeito a purificação dessas emoções”.
Origem da Tragédia
A origem da Tragédia remonta à Grécia Antiga, no século VI a.C., sendo o primeiro gênero teatral grego. Ela estava inicialmente ligada aos cultos ao deus Dionísio, divindade do vinho, da fertilidade e do êxtase.
Como explica o classicista brasileiro Junito Brandão, a Tragédia nasceu das celebrações dionisíacas, especialmente das Grandes Dionísias Urbanas, instituídas em Atenas por Pisístrato em 535 a.C.
Principais autores e obras
No século V a.C. a Tragédia alcançou seu auge. Nesse período, destacam-se três grandes dramaturgos que moldaram a Tragédia clássica:
Ésquilo (525 – 455 a. C.):
- Oresteia
- Os persas
- Prometeu acorrentado
- As suplicantes
Eurípides (480 – 406 a. C.):
- Medeia
- As bacantes
- As troianas
- Alceste
Sófocles (497- 405 a. C.):
- Édipo em Colono
- Édipo rei
- Antígona
- Electra
Esses dramaturgos foram responsáveis por transformar o gênero em uma forma de arte capaz de discutir dilemas humanos profundos.
Função da Tragédia na Pólis Grega
Nessa perspectiva, sobretudo em Atenas, a Tragédia tinha função cívica, cultural e religiosa.
Desse modo, mais do que arte, era uma instituição que reunia a pólis em festivais estatais para refletir sobre valores e tensões da época, como o confronto entre indivíduo e coletividade, tradição mítica e pensamento jurídico emergente, como destaca o historiador Jean-Pierre Vernant.
Logo, por meio de narrativas com heróis trágicos, a Tragédia servia como advertência e reflexão, purificando e educando emocionalmente os cidadãos, enquanto reafirmava os valores centrais da pólis grega.
Características da Tragédia
De acordo com Aristóteles e a tradição grega, a Tragédia apresenta elementos essenciais que a distingue de outros gêneros. Veja a seguir:
O herói e personagens nobres
Os protagonistas não são pessoas comuns, mas sim figuras nobres (reis, heróis e deuses) que representam valores significativos para a sociedade.
Nesse sentido, o herói trágico é um personagem central da Tragédia grega, geralmente dotado de nobreza de caráter e posição elevada. Apesar de suas virtudes, é também extremamente falível, sendo sua ruína provocada por um erro de julgamento ou por um excesso de orgulho. Exemplo disso é Édipo, em Édipo Rei, um líder admirado que enfrenta uma queda trágica.
Linguagem elegante
A linguagem da Tragédia deve ser refinada e digna. Diferente da linguagem cotidiana, a Tragédia usa um estilo poético e elevado, capaz de transmitir com força e beleza os dilemas e emoções profundas dos personagens. Essa linguagem contribui para criar uma atmosfera solene, que eleva o espectador a uma experiência estética e emocional intensa.
Conflito inevitável e final infeliz
O destino do herói é inevitavelmente determinado, seja por forças divinas, circunstâncias externas ou suas próprias escolhas. Essa inevitabilidade cria uma tensão dramática única.
Diferentemente do final feliz convencionado nos contos de fadas, a maioria das Tragédias culmina em sacrifício, ruína, morte ou sofrimento do protagonista.
Essa infelicidade também afeta aqueles ao seu redor, como ocorre em Édipo Rei, em que Édipo e seus pais têm um final infeliz. Porém, é válido ressaltar que a Tragédia Alceste, de Eurípedes, é uma das exceções a essa regra, pois possui um final feliz apesar do sacrifício.
Catarse
Ao assistir à Tragédia, o público experimenta sentimentos de profunda “compaixão” pelo sofrimento do herói e de “terror”, pelo reconhecimento da fragilidade humana. Isso resulta em uma “purificação emocional” (katharsis) coletiva e, dessa forma, o teatro estaria cumprindo sua função educativa.
Temas sérios e universais
Questões como o destino, a morte, a justiça, os conflitos morais e os limites da condição humana são exploradas. Isso ocorre, por exemplo, em Antígona (obra que compõe a Trilogia Tebana), no qual o embate entre valores individuais (o dever familiar) e coletivos (a lei da pólis) reflete dilemas éticos atemporais.
Conceitos-chave da Tragédia
Para compreender melhor a narrativa trágica, é necessário conhecer os conceitos fundamentais da sua estrutura, responsáveis por amplificar seu impacto dramático:
- Hamartia (erro trágico): é uma falha ou erro de julgamento do herói que leva à sua queda. Em Édipo Rei, a busca obstinada de Édipo pela sua origem, embora louvável, conduz à revelação de sua própria Tragédia;
- Hybris (orgulho): é o excesso de confiança ou transgressão dos limites humanos (ou divinos). Isso pode ser observado, por exemplo, em Antígona, ao desafiar a ordem de Creonte, comete hybris ao priorizar suas convicções pessoais;
- Anagnorisis (reconhecimento): é o momento de compreensão tardia de uma verdade crucial pelo herói, quando não há mais nada a ser feito para mudar o destino. Em Édipo Rei, esse momento ocorre quando Édipo reconhece que é o assassino de seu pai e esposo de sua mãe, o que é devastador para ele;
- Peripeteia (reviravolta): uma mudança súbita na sorte do herói, de felicidade para desgraça; e
- Catástrofe: o desfecho trágico, marcado pelo sofrimento ou morte do protagonista.
Estrutura da Tragédia Grega
É fato que os gregos valorizavam profundamente a harmonia, a ordem e o equilíbrio. Esses princípios também podem ser observados na forma da Tragédia grega, a qual segue uma estrutura formal bem definida, essencial para sua compreensão:
- Prólogo: introdução que apresenta o contexto da história, geralmente por meio de um monólogo ou diálogo entre dois personagens;
- Párodo: primeira entrada do coro, que canta, estabelece o tom da narrativa e apresenta um ponto de vista sobre os eventos iniciais, representando a voz coletiva da pólis;
- Episódios: cenas principais da Tragédia, nas quais a narrativa se desenvolve e ocorrem os conflitos, por meio de diálogos entre atores;
- Estásimos: cantos do coro, intercalados aos episódios, que comentam os eventos ocorridos, com lirismo reflexivo de teor moral e expressão de valores coletivos; e
- Êxodo: conclusão da peça, em que ocorre o desfecho da narrativa. Nessa parte, o coro faz sua última aparição, geralmente encerrando com uma reflexão de caráter moral ou filosófico dirigida ao público.
A Tragédia em outras épocas
Ao longo do tempo, as Tragédias gregas inspiraram vários artistas e suas obras. Um grande exemplo disso é Hamlet, escrita por William Shakespeare (séc. XVII), durante o classicismo inglês. Essa obra é considerada uma das maiores Tragédias da literatura ocidental e um marco da transição entre a Tragédia clássica e a Tragédia moderna.
A peça acompanha o príncipe Hamlet, o herói trágico que busca vingança pela morte do pai, assassinado pelo tio Cláudio, agora casado com sua mãe. Porém, ao contrário das Tragédias gregas, em que o destino e os deuses conduzem os eventos, em Hamlet o drama é marcadamente psicológico: são observados os conflitos internos do protagonista, sua dúvida, hesitação e consciência moral.
A ruína de Hamlet decorre de sua própria reflexão excessiva, melancolia e paralisia diante da ação. Tudo isso permite que o conflito escale, levando a consequências devastadoras. A peça, portanto, atualiza dilemas: aqui, a Tragédia está menos na ação externa e mais na crise existencial do indivíduo.
Resumo sobre Tragédia no teatro
Para facilitar o seu entendimento e você se dar bem nas provas que abordam esse gênero, preparamos um quadro resumindo tudo o que você precisa saber:
O que é? | Gênero dramático que retrata a queda de um herói nobre devido a falhas, soberba ou forças maiores, promovendo piedade e terror no público. |
Qual sua origem? | Século VI a.C., Grécia Antiga, ligada aos cultos dionisíacos. |
Qual era sua função na Pólis? | Promover reflexão sobre valores em transição e reforçar os princípios da moderação, justiça e respeito ao destino por meio da catarse. |
Quais são suas características? | – Personagens nobres – Linguagem elevada – Conflito inevitável e final triste – Catarse |
Conceitos-chave | – Hamartia: Erro trágico – Hybris: Soberba – Anagnorisis: Reconhecimento tardio- Peripeteia: Reviravolta – Catástrofe: Desfecho trágico |
Estrutura | – Prólogo: Introdução do contexto. – Párodo: Entrada do coro. – Episódios: Cenas principais com conflitos. – Estásimos: Cantos reflexivos do coro. – Êxodo: Conclusão com reflexão moral. |
Temas principais | – Sofrimento humano – Justiça e culpa – Decisões e responsabilidades – Indivíduo vs. forças maiores – Conhecimento e suas consequências |
Principais Autores e Obras | – Ésquilo: Oresteia, Os Persas, Prometeu Acorrentado. – Sófocles: Édipo Rei, Antígona, Édipo em Colono. – Eurípides: Medeia, As Bacantes, Alceste (exceção com final feliz). |
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