Um dos assuntos mais recorrentes em vestibulares é a análise dos efeitos de sentido. Compreender um texto é mais do que reconhecer as palavras.
É preciso compreender qual o significado do que está escrito. Principalmente em textos de humor e tirinhas, compreender qual o sentido pretendido é imprescindível.
Efeitos de sentido podem ser definidos como escolhas expressivas que o emissor faz quando emite uma mensagem, suas interpretações e os impactos que tem sobre o receptor, transcendendo o significado literal das palavras ou das informações transmitidas.
Há quatro efeitos de sentido essenciais a serem compreendidos para a interpretação de textos: ambiguidade, duplo sentido, ironia e humor.
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Ambiguidade
A ambiguidade ocorre quando um mesmo vocábulo ou expressão pode ser interpretado de mais de uma maneira. Ela pode aparecer de duas formas:
- como recurso expressivo, principalmente no caso da publicidade ou dos textos humorísticos;
- como um defeito na construção, prejudicando a clareza da mensagem.
Ou seja, ela pode ser intencional ou não.
Em textos argumentativos, didáticos, jornalísticos e outros de função informativa, a ambiguidade é considerada um defeito. Nesses tipos de texto, a mensagem deve ser o mais clara e objetiva possível.
Por isso, deve-se evitar expressões que possam gerar algum tipo de ambiguidade. Um exemplo de ambiguidade intencional pode ser visto na tirinha abaixo:
A ambiguidade aqui é proposital. O objetivo é explorar as duas possibilidades da palavra “paciente”:
- substantivo, significando pessoa que será atendida pelo médico;
- ou adjetivo, significando característica de pessoa que tem paciência. É nessa ambiguidade que reside o humor da tirinha.
Duplo sentido
O duplo sentido é um recurso expressivo em que as palavras e expressões utilizadas possuem diferentes interpretações. A diferença do duplo sentido para a ambiguidade é que muitas vezes a ambiguidade não é intencional, enquanto que o duplo sentido é planejado, principalmente visando o humor.
Aparece muitas vezes na publicidade. Além disso, piadas, anedotas e outros textos humorísticos também trabalham com o duplo sentido.
Costuma-se falar em duplo sentido principalmente para construções em que há duas interpretações possíveis: o sentido literal, mais ingênuo; e o segundo sentido, com fundo sarcástico, remetendo a referências sexuais ou ofensivas.
Normalmente, depende do conhecimento de mundo do leitor ou ouvinte para que a dupla referência seja compreendida. Além disso, ela depende do contexto: uma frase com potencial duplo sentido pode ser entendida de modos diferentes dependendo dos participantes da conversa.
Com colegas de trabalho, possivelmente uma frase de duplo sentido passaria despercebida, enquanto o mesmo não ocorreria num grupo de amigos com maior intimidade.
Veja, por exemplo, essa propaganda:
Há aqui duas interpretações possíveis para o texto: que a pessoa recebe a visita de amigos (sentido literal) e que, uma vez que o corpo da pessoa é sua casa, ela mostra seu corpo para outras pessoas (duplo sentido).
Muitas vezes em provas será exigido que você entenda o conceito de duplo sentido, ainda que não apareça a expressão em si. Outras vezes, o duplo sentido se encontra no diálogo entre textos verbais e não verbais, principalmente quando envolve tirinhas, charges ou propagandas.
Ironia
Como dito anteriormente, a ironia consiste em utilizar uma palavra ou expressão, atribuindo-lhe diferente sentido ou significado de acordo com o contexto, e assim gerando o efeito de humor. Na construção de um texto, ela pode aparecer em três modos: ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).
Ironia verbal
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro significado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a intenção são diferentes.
Exemplo:
Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível!
Ironia de situação
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja.
Exemplo:
Quando num texto literário uma personagem planeja uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem sucesso. Após a morte, a personagem se torna conhecida. Há uma ironia de situação: planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a morte.
Ironia dramática (ou satírica)
A ironia dramática é um dos efeitos de sentido que ocorre nos textos literários quando a personagem tem a consciência de que suas ações não serão bem sucedidas ou que está entrando por um caminho ruim, mas o leitor já tem essa consciência.
Exemplo:
Em livros com narrador onisciente, ou seja, que sabe tudo o que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil aparecer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exemplo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a plateia já sabe que eles não serão bem sucedidos. Isso é uma ironia dramática.
O autor Machado de Assis é um dos escritores brasileiros mais conhecidos pelo uso da ironia em suas obras. Lembre-se desse dado quando estiver lendo seus livros!
O alienista é uma das leituras obrigatórias para o vestibular do ITA atualmente. Não deixe de observar o aparecimento frequente da ironia no texto.
Humor
A maioria dos efeitos de sentido de textos citados até então tem um objetivo comum: o humor. Situações cômicas ou potencialmente humorísticas compartilham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocorrer algo fora do esperado numa situação.
Há diversas situações em que o humor pode aparecer numa prova de vestibular. Há as tirinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico; há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente acessadas como forma de gerar o riso.
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