Nível conotativo: significação da linguagem

Nível conotativo: significação da linguagem

A significação da linguagem em nível conotativo é uma forma de atribuir sentido a mensagem de maneira não-literal, com significados figurados, metafísicos, elaborados socialmente. É o tipo de semântica que aparece em fábulas, ditados populares e textos de abordagem mais fictícia.

O uso da conotação atribui certa subjetividade aos escritos, algo que é muito explorado na literatura, artigos de opinião e outros tipos de textos que não prezam pela objetividade da informação, mas tendem à interpretação mais ampla, múltipla, figurada. 

Neste artigo, você conhecerá as principais características de uma linguagem em sentido conotativo, o papel desse tipo de escrita em um texto, qual função da linguagem mais se relaciona com essa forma de escrita, além de acompanhar exemplos de textos e questões que abordam essa temática.

O que é significação da linguagem?

O conceito de significação da linguagem versa sobre o sentido atribuído a cada mensagem a medida que é lida, proclamada e ouvida. Na Língua Portuguesa, é muito comum que uma palavra de grafia e sonoridade igual tenha significado diferente, então o contexto linguístico permite que se atribua um significado ao termo dentro daquela escrita. 

Muitas vezes, ainda, além do sentido comum da palavra, descrito no dicionário, os termos podem admitir significados mais figurativos, por vezes metafísicos e abstratos, como lições de ética e moral. 

Nesse sentido, o interlocutor precisa estar atento a todo o cenário que compõem a mensagem, para compreender cada palavra dentro deste ambiente linguístico. Ao mesmo tempo, o conhecimento geral sobre expressões cotidianas, ditados populares, provérbios antigos, pode ser útil no entendimento desses sentidos figurados.

Significação da linguagem em nível conotativo

Como foi mencionado anteriormente, conotação é o nome dado para a característica de atribuir um significado não-literal para um vocábulo. Esse tipo de linguagem favorece um aspecto mais subjetivo para o texto, porque abre margens para diferentes interpretações, para divagações e reflexões, inclusive. 

As palavras utilizadas estão presentes no dicionário e, muitas vezes, são termos comuns do cotidiano. O que realmente constrói o nível conotativo da linguagem é a ideia por trás da frase, que não diz literalmente o que está sendo dito. 

Por exemplo, no ditado popular brasileiro “cada macaco no seu galho”, o sentido literal, do dicionário, apontaria para pequenos mamíferos dispostos em galhos diferentes de uma árvore. Mas, quando explora-se a mesma frase do ponto de vista conotativo, entende-se que o provérbio quer dizer que cada um deve ficar em seu lugar.

Algumas expressões mais longas podem transmitir a mesma ideia de individualidade, mas construindo uma ideia de hierarquia entre personagens como “cada rei no seu trono, cada macaco no seu galho e cada palhaço no seu circo”. 

Principais usos da linguagem conotativa

A construção conotativa da linguagem é explorada principalmente em textos que não precisam de muito comprometimento com os dados, de forma que podem ser apresentados de forma subjetiva, com mais margens para múltiplas interpretações.

Assim, embora não seja o tipo de escrita adequado para a construção de um texto jornalístico, a linguagem conotativa tem um papel fundamental na redação de cartas entre namorados, poemas que falam sobre a vida e situações do cotidiano, crônicas, fábulas, discursos motivacionais, entre outros gêneros textuais. 

Afinal, quando se escreve uma carta de cunho emocional, espera-se que as palavras expressem os sentimentos, as emoções, as saudades e esse papel é bem cumprido pela linguagem conotativa. 

No caso das poesias, muitos poetas versam sobre amor, drama, saudades, tristeza, então, utilizam a conotação para expressar ainda mais sua subjetividade e conferir mais intensidade ao conteúdo do poema. Veja no soneto de Luís de Camões:

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor.

Note como o português explora características para o amor, de forma figurativa. Ele lança mão, ainda, de figuras de linguagem que contribuem para a intensificação das ideias propostas, em um nível conotativo e subjetivo. 

Outra forma comum de utilizar a linguagem conotativa são as fábulas. Nesse tipo textual, as personagens (que geralmente são animais) vivenciam uma situação específica da qual, ao final, é possível extrair uma lição de moral. Assim, de forma figurada, o autor pode emitir um conhecimento que adquiriu ao longo da vida, como mostra o exemplo a seguir. 

Uma tartaruga e uma lebre discutiam sobre qual era a mais rápida entre as duas. E, então, marcaram um dia e um lugar para uma corrida. A lebre, confiando em sua rapidez natural, não se apressou em correr, se deitou no caminho e dormiu. Mas a tartaruga, consciente de sua lentidão, não parou de correr e, assim, ultrapassou a lebre que dormia e chegou ao fim, obtendo a vitória.

A ideia desta fábula é demonstrar, conotativamente, que é necessário manter a persistência e perseverança independentemente de suas características serem mais ou menos prestigiadas por outros ao seu redor. Ao mesmo tempo, contar vitória antes do tempo e agir relaxadamente podem ser o início de uma grande derrota. 

Significação da linguagem em nível conotativo e função da linguagem

À medida que um texto é construído, a linguagem deve cumprir a função de transmitir a mensagem. Nesse sentido, ela pode ser atribuída a diversos papéis, seja para manter um canal de comunicação aberto, para falar sobre a construção e funcionamento da própria linguagem (como este artigo), para dar informações de forma sintética e objetiva, ou outras funções.

No caso da linguagem conotativa, ela cumpre bem a finalidade de expressar sentimentos, transmitir a mensagem de maneira subjetiva, falar sobre questões pessoais. As funções da linguagem que mais se assemelham com essas características são a emotiva e a poética.

Na função emotiva, há um foco nos pensamentos e emoções do emissor, tem o objetivo de atrair emoções do interlocutor e, geralmente, trata sobre aspectos pessoais do autor. Por sua vez, a função poética é mais explorada na literatura, com ênfase na forma da mensagem, e predominância também de conteúdo emocional do eu-lírico, bem expressos por meio da conotação. 

Questão sobre nível conotativo da linguagem

Unicamp (2024)

‘Nevou’ no Rio

Em pleno verão, o fenômeno que vem chamando atenção nas ruas do Rio é conhecido como “nevada carioca”, ou apenas “nevou”. Trata-se da mania de descolorir, platinando os cabelos até os fios ficarem completamente brancos, que tomou conta das cabeças dos jovens de Norte a Sul e virou a febre do momento. A onda começou às vésperas do Natal, ganhou força no réveillon e entrou em janeiro lotando os salões. Nascida nas comunidades e nos subúrbios, a tendência ultrapassou fronteiras geográficas e sociais da cidade, principalmente depois de ganhar as redes e de ter conquistado artistas e atletas. Cabeleireiros e donos de salão apostam que o modismo resiste com força até os dias de folia.

(Adaptado de: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2023/01/nevou-no-rio-mania-de- -descolorir-o-cabelo-ate-ficar-quase-branco-vira-moda-entre-os-cariocas.ghtml. Acesso em 22/06/2023.)

No texto, o verbo nevar apresenta sentido

A) literal e é sinônimo de descolorir.
B) figurado e quer dizer embranquecer.
C) metafórico e é antônimo de escurecer.
D) metonímico e significa cabelos brancos.

Resposta: Conforme o início do texto indica, o verbo “nevar”, nesse contexto, refere-se ao embranquecimento do cabelo. O sentido original do verbo seria a queda de precipitação sólida em um período de extremo frio, então, a expressão popular criou um sentido conotativo/figurado para explicar uma mudança estética.

Alternativa correta: B.

+ Veja também: Denotação e Conotação: qual a diferença?

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