O poder corresponde à habilidade humana não apenas para agir, mas também para agir em concerto. O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e permanece em existência apenas enquanto o grupo se conserva unido. Quando dizemos que alguém está “no poder”, na realidade nos referimos ao fato de que ele foi empossado por um certo número de pessoas para agir em seu nome. A partir do momento em que desaparece o grupo do qual se originara o poder desde o começo, “seu poder” também se esvanece. Em seu uso corrente, quando falamos de um “homem poderoso” ou de uma “personalidade poderosa”, já usamos a palavra poder metaforicamente; aquilo a que nos referimos sem a metáfora é o vigor. O vigor, de modo inequívoco, designa algo no singular, uma entidade individual; é a propriedade inerente a um objeto ou a uma pessoa e pertencente ao seu caráter, podendo provar-se a si mesmo na relação com outras coisas ou pessoas, mas sendo essencialmente diferente delas.
A hostilidade quase instintiva dos muitos contra o único tem sido sempre atribuída, de Platão a Nietzsche, ao ressentimento, à inveja dos fracos aos fortes, mas essa interpretação psicológica não atinge o alvo. É da natureza de um grupo e de seu poder voltar-se contra a independência, a propriedade do vigor individual.
Hannah Arendt. Sobre a violência. (com adaptações).
Grândola, Vila Morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, a igualdade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Zeca Afonso. Grândola, Vila Morena. Versão da Banda 365.
A partir do fragmento do texto Sobre a violência, de Hannah Arendt, e da letra da canção Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso, anteriormente apresentados, julgue:
A política como fenômeno humano é pensada pela filosofia desde a Antiguidade, constituindo-se como um tema de investigação filosófica até os dias atuais.