Abri meu coração às mil quimeras;
Encheram-mo de fel, e tédio, e alma,
Tive, em paga do amor, riso de infama...
Ai!, pobre coração!, quão tolo eras!
Dobrei-me da razão às leis austeras;
Quis moldar-me ao viver que o mundo ama
O escárnio, a detracção me suja a fama,
E a lei me pune as intenções severas.
Cabeça e coração senti sem vida,
No estômago busquei uma alma nova
E encontrá-lo pensei... Crença perdida!
Mulher aos pés o coração me sova;
Foge ao mundo a razão espavorida;
E por muito comer eu desço à cova!
CASTELO BRANCO, Camilo. Coração, cabeça, estômago. Fonte: Disponível em: https://tinyurl.com/86dp2wjy. Acesso em: 25 nov. 2023.
Poema este que encerra o livro, explique a partir dele:
a) Como ele se adequa à trajetória da visão de mundo de Silvestre;
b) duas figuras de linguagem presentes no soneto.