Agora, Fanfarrão, agora falo
contigo, e só contigo. Por que causa
ordenas que se faça uma cobrança
tão rápida e tão forte contra aqueles
que ao Erário só devem tênues somas?
Não tens contratadores, que ao rei devem
de mil cruzados centos e mais centos?
Uma só quinta parte que estes dessem,
não matava do Erário o grande empenho?
O pobre, porque é pobre, pague tudo,
e o rico, porque é rico, vai pagando
sem soldados à porta, com sossego!
Não era menos torpe, e mais prudente,
que os devedores todos se igualassem?
Que, sem haver respeito ao pobre ou rico,
metessem no Erário um tanto certo,
à proporção das somas que devessem?
Indigno, indigno chefe! Tu não busca
so público interesse. Tu só queres
mostrar ao sábio augusto um falso zelo,
poupando, ao mesmo tempo, os devedores,
os grossos devedores, que repartem
contigo os cabedais, que são do reino.
CARTA VII, versos 246 a 268. In: OLIVEIRA, Tarquínio J. B. de. AsCartas Chilenas – fontes textuais. São Paulo: Referência, 1972.p. 175
Erário: conjunto dos recursos financeiros públicos; os dinheiros e bens do Estado; tesouro, fazenda.
No fragmento das Cartas Chilenas, é possível reconhecer, como principal denúncia,