Questão
Simulado UERJ
2021
Fase Única
Alguma-vez-ja52165faeb4a
Alguma vez já aconteceu om você de aquela tia chata apertar a sua bochecha e dizer, empolgadíssima: “Aproveita, menina! Aproveita porque essa é a melhor fase da vida! E passa tão depressa! Aproveita!”? Eu lhes digo, sem apertar a bochecha: fiquem tranquilas. Não deem bola. Por vários motivos. Em primeiro lugar: se alguém aperta a bochechado próximo, (às vezes nem tão próximo assim...) achando que está agradando, é mais do que óbvio que erre alguém não sabe patavina da vida. Mas há mais coisas na frase da tia.

Há uma fantasia dos adultos sobre a infância e a adolescência. Talvez essa fantasia surja de adultos infelizes que, não vendo muita perspectiva de melhorarem no futuro, acabam pintando o passado com as cores mais contentes, como quem diz: Ah! Pelo menos na juventude eu fui feliz!”. Lá pelos meus 15 anos, sendo um nerd exemplar, de óculos e aparelho nos dentes, eu me lembro de ficar muito angustiado pensando: está passando! E eu não estou aproveitando! Não saio de rolê em conversíveis com mulheres gatas, como nas propagandas de Campari, não faço trilhas selvagens de mountain bike, como nas propagandas de Gatorade, nem derreto corações tocando sax, como nas propagandas de Free. E vai acabar o prazo, eu não terei aproveitado, já serei adulto e tudo será chato!

Pois tenho a honra de lhes dar uma ótima notícia: do alto (alto?!) de meus 24 anos, posso dizer que na idade adulta também há lugar para a felicidade! E muito! Não faço trilhas de mountain bike, não toco sax nem tenho um conversível, mas tenho uma namorada que amo (e que, se for verdade o que diz, me ama também), moro sozinho, nunca mais tive que decorar nenhuma fórmula de química, ganho meu próprio dinheiro e, quando deixo a toalha molhada em cima da cama, sabe o que acontece? Nada!

Claro, minha vida dos 13 aos 20 foi mais difícil do que a do Rodolfinho, por exemplo, um cara da minha classe que era bonito, rico, jogava bola pra caramba e cantava bem. Mas eu aposto que, para cada Rodolfinho, devem existir uns quinze Antonios (e Antonias) que não fazem metade do que eles fazem e se angustiam. Por isso, minhas caras, se a vida não está a melhor coisa do mundo neste momento, fiquem tranquilas. Tem tempo pra tudo. As oportunidades batem, sim, muito mais do que uma vez à sua porta. 

O computador, onde escrevo a coluna neste momento, a mesa e a cadeira são os únicos objetos em toda a casa. O resto está encaixotado. Em 72 horas entro num avião e vou para Barcelona, passar o próximo ano. Minha namorada já está lá. Simplesmente decidimos ir. Vendemos nossos carros, juntamos dinheiro, compramos a passagem e pronto. Somos adultos, ué!

(Antônio Prata. O Peter Pan era um idiota. In.: Estive pensando. São Paulo: Marco Zero, 2003. p. 23 e 24)

Para descrever a si mesmo no seu tempo de adolescência – e às demais pessoas parecidas com ele –, o autor combina duas figuras de linguagem, a metonímia e a personificação, numa mesma expressão.

Essa combinação se encontra em:
A
devem existir uns quinze Antonios (e Antonias) que não fazem metade do que eles fazem (4º§)
B
Não faço trilhas de mountain bike, não toco sax nem tenho um conversível, mas tenho uma namorada que amo (3º§)
C
do alto (alto?!) de meus 24 anos, posso dizer que na idade adulta também há lugar para a felicidade! (3º§)
D
Tem tempo pra tudo. As oportunidades batem, sim, muito mais do que uma vez à sua porta. (4º§)