Antigamente - Carlos Drummond de Andrade
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles, eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé de alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. [...] Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde no cinematógrafo, chupando balas de alteia. Ou sonhavam de andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água.
Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso punham a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana. A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe faziam quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso, Verdade seja que às vezes os meninos eram mesmo encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. A meninas, não: verdadeiros cromos, umas teteias.
[...] Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos lombrigas, asthma os gatos, os homens portavam ceroulas, botinas e capa de goma [...] não havia fotógrafos, mas retratistas, e os cristãos não morriam: descansavam.
Mas tudo isso era antigamente, isto é, outrora.
Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa
A rua é inútil e nenhum auto
Passaria sobre meu corpo.
(Drummond de Andrade)
Em relação a esses versos, assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para a alternativa de acordo com o texto:
Pálido é adjunto adverbial de modo.