Questão
Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
2013
Fase Única
Apostrofe-a94caf9a9fd
Apóstrofe à carne

Quando eu pego nas carnes do meu rosto,
Pressinto o fim da orgânica batalha:
– Olhos que o húmus necrófago estraçalha,
Diafragmas, decompondo-se, ao sol-posto.

E o Homem – negro e heteróclito composto,
Onde a alva flama psíquica trabalha,
Desagrega-se e deixa na mortalha
O tacto, a vista, o ouvido, o olfato e o gosto!

Carne, feixe de mônadas bastardas,
Conquanto em flâmeo fogo efêmero ardas,
A dardejar relampejantes brilhos,

Dói-me ver, muito embora a alma te acenda,
Em tua podridão a herança horrenda,
Que eu tenho de deixar para os meus filhos!

(Augusto dos Anjos. Obra completa, 1994.)

No plano formal, o poema é marcado por 
A
versos brancos, linguagem obscena, rupturas sintáticas. 
B
vocabulário seleto, rimas raras, aliterações. 
C
vocabulário antilírico, redondilhas, assonâncias. 
D
assonâncias, versos decassílabos, versos sem rimas. 
E
versos livres, rimas intercaladas, inversões sintáticas.