Questão
Simulado USP - FUVEST
2020
1ª Fase
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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Apresentam-me um texto. Esse texto me enfara. Dir-se-ia que ele tagarela. A tagarelice do texto é apenas essa espuma de linguagem que se forma sob o efeito de uma simples necessidade de escritura. Não estamos aqui na perversão, mas na procura. Escrevendo seu texto, o escrevente adota uma linguagem de criança de peito: imperativa, automática, sem afeto, pequena debandada de cliques (esses fonemas lácteos que o jesuíta maravilhoso, van Ginneken, colocava entre a escritura e a linguagem) são os movimentos de uma sucção sem objeto, de uma oralidade indiferenciada, separada da que produz os prazeres da gastrosofia* e da linguagem. O senhor se dirige a mim para que eu o leia, mas para si nada mais sou que essa direção; não sou a seus olhos o substituto de nada, não tenho nenhuma figura (apenas a da Mãe); não sou para si um corpo, nem sequer um objeto (isto pouco se me dá: não é a alma que reclama seu reconhecimento), mas apenas um campo, um vaso de expansão. Pode-se dizer que finalmente esse texto, o senhor o escreveu fora de qualquer fruição; e esse texto-tagarelice é em suma um texto frígido, como o é qualquer procura, antes que nela se forme o desejo, a neurose. 

(Barthes, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Editora Perspectiva, 2018)  

*Gastrosofìa é uma disciplina que visa combinar apetite, artes culinárias e uma paixão pela boa comida e bebida. 

Segundo o texto, sob a perspectiva do escritor, o que seria o leitor?
A
a mãe que lhe deve dar atenção.
B
alguém a ser conquistado.
C
alguém que lhe deve dar prazer com seu reconhecimento.
D
uma continuidade egocêntrica do próprio escritor.
E
uma figura irrelevante.