Área: Meio Ambiente

Texto 1
A caça ao caçador: o tráfico de animais no Brasil
A cada ano, milhares de animais silvestres são vítimas do tráfico no Brasil. Isso quer dizer que aves, répteis, primatas, entre outros, são sequestrados de seus habitats naturais — na maioria das vezes, ainda filhotes ou quando o ovo sequer foi chocado — e caem no comércio ilegal da fauna. Desde 1972, é possível comprar algumas espécies de forma legal, com criadores certificados pelo Ibama, o órgão de fiscalização ambiental. Contudo, em um recente estudo feito pela agência federal, ao qual VEJA teve acesso com exclusividade, ficou comprovado que a criação legal dos animais estimula o tráfico e parte dos estabelecimentos serve para “esquentar” filhotes oriundos da natureza, e não da procriação em cativeiro.
(...) O principal exemplo da impunidade é o do traficante e ex-servidor público Valdivino Honório de Souza, preso por lavagem de dinheiro na cidade de Patos, no interior da Paraíba, desde o começo deste ano.
Apesar de a condenação ter sido pelo crime de esconder a origem ilícita do seu patrimônio, a atividade que ele exerceu desde 1996 foi a de traficante. Souza foi pego em flagrante 15 vezes e em todas foi liberado após a aplicação de multas.(...) À legislação branda, soma-se a falta de conscientização quanto à proibição de manter animais silvestres como bichos de estimação e, na última década, a transição da oferta e da demanda para as redes sociais. Em junho deste ano, o Ibama realizou uma operação nas redes sociais e encontrou 1 277 animais à venda na internet.
(...)
Por ser um crime que não é levado a sério nem mesmo pela sociedade civil, a venda de animais nunca precisou se esconder tão a fundo na internet. Aqueles que comercializam a fauna na deep web o fazem porque, normalmente, também praticam outros delitos, como tráficos de armas e drogas. “Assim como pessoas mantém animais irregulares na porta de casa, a mesma falta de noção se reproduz nas redes sociais”, explicou o coordenador de operações do Ibama.
(https://veja.abril.com.br/blog/impacto/a-caca-ao-cacador-o-trafico-de-animais-no-brasil/)
Texto 2
Portas abertas para doenças
Além de priorizar os temas ambientais nas pautas políticas, o especialista destaca a necessidade de aprimorar a legislação e de conscientizar a sociedade, uma vez que o tráfico não só prejudica a biodiversidade, mas também abre portas para uma série de doenças. “Ao comprar um animal silvestre ilegalmente, a pessoa comete um crime e ainda facilita a entrada de doenças no País. Sabemos que a natureza é o principal refúgio de micro-organismos, ainda desconhecidos da medicina, que podem provocar doenças emergentes e devastadoras para a saúde pública”.
De 60 a 70% das doenças existentes no mundo são doenças zoonóticas, tendo o animal como agente causador, como vetor, transmissor ou reservatório
“Não adianta investir em um ótimo sistema de vigilância sanitária, pois o tráfico não se submete a nenhum tipo de controle. Ao entrar no País, os animais facilitam a circulação de micro-organismos que podem desencadear epidemias e pandemias graves, como a que estamos vivendo nesse momento. Afinal, há uma grande suspeita de que o coronavírus tenha surgido em animais silvestres traficados”, completa.
https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2020/07/16/trafico-de-animais-epratica-criminosa-que-prejudica-biodiversidade-e-facilita-a-disseminacao-de-doencas.ghtml
Texto 3
(Entrevista como o filósofo Paul Singer para a revista Veja)
Por que alguém deveria se preocupar eticamente com um animal? Afinal, os animais não se preocupam eticamente com os seres humanos. Realmente, eles não se preocupam. Mas bebês e crianças pequenas também não têm preocupações éticas – e todos concordariam que devemos nos preocupar com eles eticamente. Se alguém quisesse causar dor numa criança por diversão, iríamos pensar que é errado, mesmo que a criança ainda não seja capaz de pensar eticamente sobre as outras pessoas. Acho que o mesmo vale para os animais. Eles são capazes de sofrer, sua vida pode ser boa ou má. E mesmo assim nós usamos bilhões deles para motivos fúteis, sem levar em conta seus interesses. Se há sofrimento acontecendo – que nós estamos causando – estamos diante de uma questão ética importante.
(...)
Mas o senhor não acha que a vida humana tem mais valor que a de um peixe, por exemplo? Acho que existe uma diferença entre seres autoconscientes e seres que apenas têm consciência, e essa diferença é relevante quanto ao erro de matar esse ser. É mais sério matar um ser autoconsciente, que recorda o seu passado e se projeta no futuro, mas não acho que o sofrimento desse ser tenha valor maior do que o de um que apenas é consciente. Não defendo que tudo que aconteça contra um ser autoconsciente seja mais importante – apenas o assassinato. Veja bem, o princípio moral básico para mim é o da igual consideração de interesses, levar na mesma conta todos os interesses envolvidos em determinada ação. Assim, se eu e um cachorro sentimos a mesma quantidade de dor, nosso interesse em não sentir dor é similar. Mas se eu for autoconsciente, eu tenho um interesse maior em continuar vivendo. Eu posso fazer planos, posso buscar objetivos. Assim, eu tenho mais a perder com a minha morte do que um animal que vive apenas no presente, cujos interesses são, basicamente, encontrar abrigo, comida, segurança.
https://veja.abril.com.br/ciencia/a-filosofia-e-hoje-mais-importante-do-que-jamais-foi-afirma-peter-singer/

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade formal da língua portuguesa sobre o tema:
O descaso em relação ao tráfico de animais
Escreva um texto apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para a defesa do seu ponto de vista.