

Augusto Meyer, A forma secreta. 4. ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1965.
* Sílvia e Sílvio: nomes próprios que, no conto, personificam, respectivamente, um adjetivo e um substantivo.
**frincha: fenda.
***epíteto: adjetivo ou qualificativo que se junta a um nome para dar-lhe uma designação particular.
Vasto mundo incógnito. Sílvio e Sílvia rompem por entre embriões e ruínas. Grupos de ideias, deduzindo-se à maneira de silogismos, perdem-se no tumulto de reminiscências da infância e do seminário. Outras ideias, grávidas de ideias, arrastam-se pesadamente, amparadas por outras ideias virgens. Cousas e homens amalgamam-se; Platão traz os óculos de um escrivão da câmara eclesiástica; mandarins de todas as classes distribuem moedas etruscas e chilenas, livros ingleses e rosas pálidas; tão pálidas, que não parecem as mesmas que a mãe do cônego plantou quando ele era criança. Memórias pias familiares cruzam-se e confundem-se. Cá estão as vozes remotas da primeira missa; cá estão as cantigas da roça que ele ouvia cantar às pretas, em casa; farrapos de sensações esvaídas, aqui um medo, ali um gosto, acolá um fastio de cousas que vieram cada uma por sua vez, e que ora jazem na grande unidade impalpável e obscura.
Machado de Assis, “O Cônego ou Metafísica do Estilo”, Obra completa, vol. II, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
a) Esse parágrafo foi considerado por Augusto Meyer uma “frincha entreaberta para o subconsciente”. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta com base em elementos presentes no parágrafo do conto machadiano transcrito acima.
b) Identifique o tempo verbal predominante no mesmo parágrafo e justifique seu emprego, considerando que se trata de um texto narrativo.