Questão
Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
2003
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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Auto da Lusitânia

(Gil Vicente – 1465–1536)

Estão em cena os personagens Todo o Mundo (um rico mercador) e Ninguém (um homem vestido como pobre). Além deles, participam da cena dois diabos, Berzebu e Dinato, que escutam os diálogos dos primeiros, comentando-os, e anotando-os.

Ninguém para Todo o Mundo: E agora que buscas lá? Todo o Mundo: Busco honra muito grande.

Ninguém: E eu virtude, que Deus mande que tope co ela já.

Berzebu para Dinato: Outra adição nos acude: Escreve aí, a fundo, que busca honra Todo o Mundo, e Ninguém busca virtude.

Ninguém para Todo o Mundo: Buscas outro mor bem qu’esse?

Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse tudo quanto eu fizesse.

Ninguém: E eu quem me repreendesse em cada cousa que errasse.

Berzebu para Dinato: Escreve mais.

Dinato: Que tens sabido?

Berzebu: Que quer em extremo grado

Todo o Mundo ser louvado, e Ninguém ser repreendido.

Ninguém para Todo o Mundo: Buscas mais, amigo meu?

Todo o Mundo: Busco a vida e quem ma dê.

Ninguém: A vida não sei que é, a morte conheço eu.

Berzebu para Dinato: Escreve lá outra sorte.

Dinato: Que sorte?

Berzebu: Muito garrida:

Todo o Mundo busca a vida, e Ninguém conhece a morte.

(Antologia do Teatro de Gil Vicente)

A ironia, ou uma expressão irônica, consiste em, intencionalmente, dizer o contrário do que as palavras significam, no sentido literal, denotativo. Lendo-se o fragmento de Gil Vicente, percebe-se que o autor ironiza a sociedade
A
no nome dado a Berzebu que, no Novo Testamento, significa o “príncipe dos demônios”.
B
no comportamento humilde do personagem Todo o Mundo.
C
na dissimulação contida nos nomes dos personagens e suas caracterizações: Todo o Mundo (=um rico mercador) e Ninguém (=um homem vestido como pobre).
D
no pedido que Berzebu faz a Dinato: “Escreve lá outra sorte.”
E
no comportamento obstinado do personagem Ninguém.