BALANÇAS E GANGORRAS AMBIENTAIS
(1) Tornou-se senso comum afirmar que devemos equilibrar conservação ambiental, garantias sociais e viabilidade econômica em prol do desenvolvimento sustentável. Todavia, quando acompanhamos debates acerca de nossas regras ambientais, temos a sensação de que, ao invés de estarem no mesmo time, os agentes dos chamados “pilares da sustentabilidade” agem como rivais tentando se sobrepor uns aos outros.
(2) Pode-se afirmar que os ganhos ambientais foram consideráveis nas últimas décadas, desde o código florestal, com sua confusa e genérica, porém indispensável, determinação de Áreas de Preservação Permanente, mas, principalmente, com uma lei fundamental que estabelece o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Dentre seus objetivos, assim como a conservação e a preservação de habitat, espécies e recursos naturais, estão a promoção do desenvolvimento sustentável e a valorização econômica e social da diversidade biológica.
(3) Com o SNUC, haveria garantias de que áreas com relevância ambiental seriam conservadas e também que populações que extraem desses ambientes a sua subsistência teriam seus direitos observados. Infelizmente, na prática, a teoria tem sido outra. Ainda que tenhamos, hoje, algo como 17% de nosso território protegido por Unidades de Conservação (UCs), a distribuição é desequilibrada e perigosamente baixa em alguns biomas.
(4) Também instaurou-se um terrorismo verde desnecessário, por conta da insegurança jurídica de terras inseridas em UCs, muitas vezes decretadas, mas não efetivadas em razão da ausência de planos de manejo – espécie de plano diretor de UC, que determina, entre outros, usos pretendidos na unidade –, assim como problemas de propriedade, dado que a maioria das categorias de UCs são públicas, não prevendo propriedades privadas em sua área. Isso significaria dizer que todos os proprietários do local deveriam ser desapropriados e, portanto, indenizados.
(5) Criou-se, então, o Fla-Flu ambiental: ruralistas e ambientalistas se enfrentando, enquanto nosso legado para a garantia de vida das gerações futuras se esvai perante nossos olhos. Os erros de um lado são justificativas para medidas arbitrárias do outro. A nova onda de desafetação de áreas baseia-se em categorizações (enquadramento em uma das categorias de UC) alegadamente equivocadas do passado. Porém, ao invés de se solicitarem recategorizações, ou, ainda, criação de mosaicos de UCs, busca-se que sejam desafetadas e, portanto, desprotegidas.
(6) Há, ainda, outros casos mais estranhos à lei atual, cuja proposta é de se criarem novas categorias de unidades para garantir benefícios específicos dentro de UCs. Dentre tantos exemplos, nesse contexto complexo, enquadra-se a reabertura da Estrada do Colono no Parque Nacional do Iguaçu. Sua retomada exigiria a destruição de habitat em plena recuperação, e uma abertura perigosa de precedentes.
(7) Essa guerra de forças no âmbito ambiental, absolutamente inconveniente, leva-nos à perda de oportunidades para parcerias público-privadas em prol da proteção de nossos biomas, e ao desperdício de um potencial extraordinário de serviços ecossistêmicos promovidos pelos ambientes naturais. Lamentável que os lados dessa mesma moeda não percebam que quem está perdendo, em última instância, não é só o verde, mas também o vermelho, o azul e todas as outras cores.
HARDT, Marcos. Balanças e gangorras ambientais. Jornal Gazeta do Povo. Publicado em: 21 maio 2019. Disponível em: https: <//www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/balancas-e-gangorras-ambientais/>. Acesso em: 25 maio 2019 (adaptado).
Releia o seguinte trecho, extraído do sexto parágrafo do TEXTO:
“Criou-se, então, o Fla-Flu Ambiental: ruralistas e ambientalistas se enfrentando, enquanto nosso legado para a garantia de vida das gerações futuras se esvai perante nossos olhos.”
Nele, vemos, em destaque, a expressão Fla-Flu, que faz menção à disputa clássica do futebol do Rio de Janeiro, em que os times Flamengo e Fluminense se enfrentam. Tal expressão caracteriza um encadeamento vocabular, que é a associação ocasional de palavras, e, no caso do TEXTO, da versão contraída das palavras. Analise as alternativas a seguir e assinale aquela em que também há um encadeamento vocabular.