CAPÍTULO I
Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o Visse, com os polegares metidos no cordão do chambre*, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em Verdade, Vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista*. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.
-Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...
Machado de Assis, Quincas Borba
*Glossário:
“chambre”: espécie de roupão.
“Capitalista”: no contexto, significa homem de posses, que vive de rendimentos
Considerando-se o primeiro capítulo do romance de Machado de Assis (Quincas Borba) sob o aspecto de sua construção (ou composição), verifica-se que ele se assinala por seu caráter