CAPÍTULO II
O EMPLASTO
(...) Essa idéia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto antihipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me arguam esse defeito; fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis.
Assim, a minha idéia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado, sede de nomeada. Digamos: — amor da glória (...).
Machado de Assis – Memórias Póstumas de Brás Cubas. Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://tinyurl.com/ya693mfs. Acesso em: 17 de abril de 2020.
O realismo é o método de representação que parte da premissa aristotélica da mimesis, isto é, imitação. A arte seria um reflexo da vida. Já Machado de Assis é um escritor que tem um estilo próprio, interpretando à sua maneira o movimento literário do qual fazia parte. Nesse sentido, o trecho acima pode ser associado a que manchete de jornal?