Questão
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
2012
Fase Única
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COPA 2014: IMPACTOS ECONÔMICOS NO BRASIL, EM MINAS GERAIS E BELO HORIZONTE

Edson Paulo Domingues
Admir Antonio Betarelli Junior
Aline Souza Magalhães

INTRODUÇÃO 

 A promoção de grandes eventos esportivos tem sido uma estratégia de diversos países para a atração de investimentos e de atenção internacional. Os benefícios econômicos destes eventos retratam um argumento utilizado para justificar o esforço e o gasto público para sediar tais eventos. Em 2009, o Brasil, especificamente a cidade do Rio de Janeiro, foi escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Um amplo estudo do impacto econômico desse evento foi divulgado pelo Comitê Organizador da candidatura brasileira, e os números divulgados ressaltaram os impactos econômicos da realização dos jogos na cidade e no país.

Com base nesse estudo, encomendado pelo Ministério do Esporte, estima-se que o impacto econômico dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos sobre o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil será de R$ 22 bilhões até 2016, enquanto, no período de 2017 a 2027, atingirá R$ 27 bilhões. Esse estudo indica que os investimentos injetados corresponderão a um multiplicador de produção de 4,26, o que representa uma movimentação na economia brasileira na ordem de R$ 102,2 bilhões (deflacionados para 2008) no período de 2009 a 2027. Dos 55 setores econômicos, construção civil (10,5%), serviços imobiliários e aluguel (6,3%), serviços prestados a empresas (5,7%), petróleo e gás (5,1%), serviços de informação (5%) e transporte, armazenagem e correio (4,8%) serão os mais beneficiados pelo evento esportivo (Secretaria da Comunicação Social da Presidência da República, 2009).

A Copa do Mundo de 2014 (Copa-2014) representa outro grande evento esportivo programado para o Brasil. Na sua preparação, uma série de obras de infraestrutura, reformas e construção de estádios estão sendo programadas. Em meados de 2009 as 12 cidades-sede da Copa, que abrigarão jogos da competição, foram escolhidas: Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Brasília (DF), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Natal (RN), Recife (PE) e Salvador (BA). Além das 12 cidades escolhidas, participaram da disputa Rio Branco (AC), Belém (PA), Maceió (AL), Goiânia (GO), Florianópolis (SC) e Campo Grande (MS). Segundo declarações do secretário geral da FIFA (Fédération Internationale de Football Association), Jerome Valcke, a escolha seguiu critérios técnicos, a partir das visitas feitas por especialistas da entidade e dos projetos entregues pelas cidades. Segundo ele, segurança pública e opções de lazer também foram consideradas (Perguntas, 2009). Assim, parece ter havido um interesse regional para sediar o evento, o que indica uma percepção de ganhos econômicos para as cidades-sede. Segundo Porter (1999), um importante argumento que os Governos candidatos fazem para hospedar um mega-evento refere-se aos benefícios econômicos que podem ser gerados.

É inegável a visibilidade que o Brasil terá com a promoção dos mega-eventos esportivos agendados; contudo, os benefícios econômicos que tais eventos trarão para o país são difíceis de estimar, pois envolvem obras de infra-estrutura urbana, reformas/construção de estádios, fluxos turísticos, investimentos privados (rede hoteleira, por exemplo) e divulgação internacional do país. Os organizadores geralmente alegam que eventos, como a Copa do Mundo, geram estímulos para os negócios domésticos (p. ex., restaurantes, hotéis e outros negócios) e, portanto, benefícios econômicos maiores que os custos (Noll e Zimbalist, 1997).

O comitê organizador da olimpíada de Atlanta estimou um impulso de $ 5,1 bilhões na economia e um aumento de 77.000 empregos (Barclay, 2009). Na maioria das vezes tais argumentos têm por base os relatórios de impactos econômicos oriundos de estudos encomendados pelos governantes ou empresas esportivas para justificar seus investimentos, uma vez que os custos para realizar tais mega-eventos são cada vez maiores. O custo de realizar os jogos olímpicos em Atenas foi de aproximadamente R$ 24,4 bilhões, ao passo que em Londres 2012, R$ 33,4 bilhões representaram somente a parcela de financiamento público (Golden Goal, 2010).

Uma metodologia freqüentemente utilizada nos estudos de impactos de eventos esportivos é a análise de Insumo-Produto, que pode estimar os efeitos diretos e indiretos desses eventos na economia. Alguns autores consideram, entretanto, que os efeitos multiplicadores obtidos superestimam os efeitos reais, pois a metodologia utiliza hipóteses de oferta ilimitada de fatores de produção, não lida com os efeitos e substituição nem custos de oportunidade. (...) Brenke e Wagner (2006), ao analisarem os efeitos da Copa do Mundo em 2006 na Alemanha, constataram que as expectativas estavam sobrevalorizadas, de forma que os empregos adicionais eram somente temporários e os custos de infraestrutura e promoção da Copa-2006 foram significativos. Eles concluíram que os principais beneficiários dos eventos foram a FIFA e a German Football Association (DFB).

(...)

… a falta de planejamento após o mega-evento esportivo pode provocar a subutilização das infraestruturas construídas e, com isso, produzir alto custo de manutenção. Existem grandes riscos para os países em desenvolvimento de que os estádios construídos para o mega-evento se tornem “elefantes brancos” (Barclay, 2009). Quatro anos após os Jogos Olímpicos de Sidney, (Austrália) o Estado precisou assumir os custos de manutenção das arenas e estádios em virtude da quebra da empresa responsável pela administração dessas infraestruturas (Golden Goal, 2010). Após a Copa do Mundo de 2002, a Coréia do Sul e o Japão se preocupam com o baixo uso e altos custos de manutenção dos estádios (Watts, 2002). Por ano, o Governo da Grécia despende aproximadamente R$ 202 milhões em custo de manutenção da infraestrutura construída para os jogos.

Segundo Golden Goal (2010), para atenuar tais situações, além do planejamento, é necessário avaliar a demanda de longo-prazo de residentes locais e turistas. Tais turistas, além de gerar retorno para os investimentos despendidos nos estádios, também despendem recursos na economia local, estimulando a renda e trabalho para os residentes locais. A renda e trabalho adicional produzem uma maior receita de impostos para o orçamento público, que poderá ser usada para financiar novos projetos (Shwester, 2007).

Por outro lado, os mega-eventos esportivos podem representar um catalisador de aceleração do processo de investimento em áreas cruciais que já deveria ter ocorrido. Nesse aspecto se concentra, particularmente, a infraestrutura urbana. Em adição aos investimentos na construção de arenas, Barcelona (1992) e Seul (1988) usaram os jogos para regenerar inteiramente suas infraestruturas urbanas (Barclay, 2009). Uma infraestrutura deficiente, que frequentemente restringe o crescimento econômico de uma região, quando revitalizada em virtude de Copa do Mundo, pode produzir uma redução de custo e fornecer um impulso de produtividade à própria economia (Swinnen e Vandemoortele, 2008). 

 (...)

Disponível em: http://www.cedeplar.ufmg.br/seminarios/seminario_diamantina/2010/D10A119.pdf. Acesso em 14/03/2012

A referência a cidades, nesse fragmento, serve como estratégia discursiva para:
A
justificar a utilização de estudos internacionais sobre o assunto.
B
ampliar a abrangência do assunto abordado.
C
exemplificar a argumentação apresentada.
D
apresentar um processo recorrente nas capitais.
E
valorizar o empreendimento nacional.