Carlos Drummond de Andrade foi poeta, contista e cronista da chamada segunda geração do modernismo brasileiro. Os temas das suas obras são variados e profundos, incluindo questões existenciais tais como o amor e o sentido da vida e da morte. O poema ”Os ombros suportam o mundo” foi publicado em 1940.
OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
Es todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida e uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 51.
Considere os versos destacados em negrito do texto:
I. Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.” (linhas 3 e 4)
II. “Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.” (linhas 14 e 15)
III. “As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda.” (linhas 16 a 18)
Com relação aos versos destacados, a alternativa correta é: