Circulo vicioso
Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
— “Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
— “Pudesse eu copiar o transparente lume¹,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
— “Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!”
Mas o sol, inclinando a rútila capela²:
— “Pesa-me esta brilhante auréola de nume³...
Enfara⁴-me esta azul e desmedida umbela⁵...
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?”
(José Lino Grúnewald (org.). Grandes sonetos da nossa língua, 1987.)
¹lume: luz, brilho, claridade.
²rútila capela: cintilante grinalda.
³nume: ser ou potência divina, divindade.
⁴enfarar: entediar.
⁵umbela: qualquer objeto ou estrutura em forma de guarda-chuva.
a) Considerando o conteúdo do poema, justifique o seu título (“Circulo vicioso”).
b) Cite uma palavra do poema formada por prefixação e identifique o sentido de seu prefixo.