Questão
Universidade de Taubaté - UNITAU
2014
1ª Fase
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Coleira eletrônica

Não sou afeito a cães, embora reconheça o quanto são úteis. Guiam cegos, localizam pessoas perdidas em florestas e montanhas, vítimas de desabamentos e
terremotos, farejam drogas, vigiam domicílios, fazem companhia a crianças, idosos e solitários.

A coleira é o que me dá pena nos cães. É necessária, em especial quando vão à rua, mas constrange. Inverta-se a posição. Seria horrível andar por aí de coleira no pescoço, os limites dos passos determinados por puxões e frouxidões [...].

Ora, mas não é de cães que as musas me impelem a tratar hoje. É de coleiras, as eletrônicas, conhecidas por telefones celulares. Hoje, somos 194 milhões de
brasileiros. Portamos 246 milhões de celulares.

A coleira eletrônica é útil para pais acessarem filhos; namorados, namoradas; chefes, subalternos; amigos, amigas. Já não é preciso recorrer ao orelhão da esquina, enfiar um cartão (após o trabalho de obtê-lo) e suportar a cara enfezada do pessoal na fila, os mais próximos atentos à nossa conversa.

O celular é, sem dúvida, de enorme praticidade. Mas tem um grande inconveniente: vicia. Não é à toa que o segundo homem mais rico do mundo é o mexicano
Carlos Slim, com fortuna de 72,1 bilhões de dólares (Bill Gates ocupa o 1º lugar, com 72,7 bilhões), dono das telefônicas America Movil e Telmex, aqui conhecidas como Claro, Embratel e Net.

O vício celulário desperta nos usuários ansiedade permanente. Alunos, em plena sala de aula, aproveitam a distração do professor para conferir redes sociais. No teatro, o aparelho ligado no silencioso brilha na plateia escura quando o usuário se conecta. No trabalho, boa parcela de tempo é consumida no ato de pregar os olhos no retângulo eletrônico que traz notícias, mensagens, cotações financeiras etc.

[...] Para uma boa saúde mental e emocional é preciso dizer não ao celular algumas horas por dia. Quantos bons livros poderiam ser lidos! Outrora, na quaresma, a Igreja recomendava abstinência de carne bovina. Quem sabe uma boa penitência seria, agora, abster-se do celular por um dia ou uma tarde! Talvez pudéssemos recuperar a nossa densidade interior, livrar-nos dessa sensação de esgarçamento d’alma que o invasivo celular provoca. O intrigante é que nunca as pessoas, em todo o mundo, estiveram tão conectadas como agora. No entanto, nunca a comunicação entre elas foi tão difícil. Haja solidão. E haja gente, via celular, mendigando afeição.

BETTO, F. Coleira eletrônica. Caros amigos. n. 196, ano XVII, jul. de 2013, p.18. São Paulo: Editora Casa Amarela. (Adaptado).

Em relação ao texto, considere as assertivas abaixo.

I. Os cães são úteis, desde que sempre levados em coleiras e desde que façam companhia a idosos, crianças e solitários.

II. As coleiras são necessárias para os cães da mesma maneira que os celulares são necessários para os homens.

III. O inconveniente do celular é causar vício e, por isso, a Igreja deveria proibi-lo nos dias de Quaresma.

IV. O celular funciona como uma espécie de coleira eletrônica, uma vez que limita e condiciona as relações de pessoas viciadas no uso do aparelho.

Está CORRETO o que se afirma em
A
 II e IV, apenas.
B
II e III, apenas.
C
I, apenas
D
IV, apenas.
E
III, apenas.