Comecemos de hoje em diante a viver, como quereremos ter vivido na hora da morte. Vive assim como quiseras ter vivido quando morras. Oh que consolação tão grande será então a nossa, se o fizermos assim! E pelo contrário, que desconsolação tão irremediável, e tão desesperada, se nos deixarmos levar da corrente, quando nos acharmos onde ela nos leva! É possível que me condenei por minha culpa, e por minha vontade, e conhecendo muito bem, o que agora experimento sem nenhum remédio? É possível que por uma cegueira, de que me não quis apartar; por um apetite que passou em um momento, hei de arder no Inferno enquanto Deus for Deus? Cuidemos nisto, Cristãos, cuidemos nisto. Em que cuidamos, e em que não cuidamos? Homens mortais, homens imortais, se todos os dias podemos morrer, se cada dia nos irmos chegando mais à morte, e ela a nós; não se acabe com este dia a memória da morte. Resolução, resolução uma vez, que sem resolução nada se faz. E para que esta resolução dure, e não seja como outras, tomemos cada dia uma hora, em que cuidemos bem naquela hora. De vinte, e quatro horas que tem o dia, por que se não dará uma hora à triste Alma? Esta é a melhor devoção, e mais útil penitência, e mais agradável a Deus, que podeis fazer nesta Quaresma.
VIEIRA, Padre Antonio. Sermão da quarta-feira de cinzas. Disponível em: https://coruja.page.link/Fhc4. Acesso em: 22 jul. 2023.
O período do Barroco fez com que os artistas adotassem algumas práticas composicionais. Qual pode ser verificada no texto acima?