Como é difícil jogar coisas fora! Mais fácil acumulá-las em gavetas, guardar em caixas ou caixinhas, meter em envelopes, enfiar em pastas, arquivar no computador ou esquecer no celular.
Como esquilos, somos acumuladores. E ao morrer, quanto trabalho damos a quem fica. Coisas não são apenas coisas. Cada objeto de que não conseguimos nos desfazer está envolto em espessa rede da memória, não é objeto solitário, faz parte de um conjunto. Jogá-lo fora significa desfazer a harmonia do conjunto, tirar uma peça do puzzle, que ficaria para sempre incompleto.
Quantas vezes hesitamos por instantes, um olho já posto na cesta de lixo, um recibo ou anotação na mão. Depois abrimos caixa ou gaveta, mesmo sabendo que quando, e se, precisarmos daquele papel teremos esquecido onde o guardamos, e desistimos da cesta de lixo.
Eu, pelo menos, sou assim. E sei que tenho abundante companhia.
(Disponível em: https://www.marinacolasanti.com/2021/02/a-dificil-arte-de-jogar-fora.html Acesso em 21 de abril de 2021)
Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica, a função da linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois: