Como a educação ainda é privilégio de muito pouca gente em nosso país, uma quantidade gigantesca de brasileiros permanece à margem do domínio de uma norma padrão. Assim, da mesma forma como existem milhões de brasileiros sem terra, sem escola, sem teto, sem trabalho, sem saúde, também existem milhões de brasileiros sem língua. Afinal, se formos acreditar no mito da língua única, existem milhões de pessoas neste país que não têm acesso a essa língua, que é a norma literária, culta, empregada pelos escritores e pelos jornalistas, pelas instituições oficiais, pelos órgãos do poder – são os sem-língua.
É claro que eles também falam português, uma variedade de português não-padrão, com sua gramática particular, que no entanto não é reconhecida como válida, que é desprestigiada, ridicularizada, alvo de chacota e de escárnio por parte dos falantes do português padrão ou mesmo daqueles que, não falando o português-padrão, o tomam como referência ideal – por isso podemos chamá-los de sem-língua.
BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999 (adaptado).
Na elaboração de um texto, alguns elementos concorrem para sua organização e estruturação.
Nesse trecho, as palavras e a expressão destacadas