Considere o fragmento abaixo, extraído do conto Mágoa que Rala, do escritor Lima Barreto, que aborda a estada de D. João VI. e da família real em terras brasileiras.
Dos chefes de Estado que tem tido o Brasil, o que mais amou, e muito profundamente o Rio de Janeiro, foi sem dúvida, D. João VI. [...]. A gente para eles [os artistas], um pouco mais que animais, eram uns negros à toas; e a natureza, um flagelo de mosquitos e cascavéis, sem possuir uma proporcionalidade com o homem, como a de Portugal, que parecia um jardim feito para o homem. Mesmo os nossos poetas mais velhos nunca entenderam a nossa vegetação, os nossos mares, os nossos rios; não compreendiam as nossas coisas naturais e nunca lhes pegaram a alma, o substractum; e se queriam dizer alguma coisa sobre ela caíam no lugar comum amplificado e no encadeamento de adjetivos grandiloquentes, quando não voltavam para a sua arcadiana livresca floresta de álamos, plátanos, mirtos, com vagabundíssimas ninfas e faunos idiotas, segundo a retórica e a poética das suas cerebrinas escolas, cheias de pomposos tropos, de rapé, de latim, e regras de catecismo literário. [...] como se poderia exigir de funcionários, fidalgos limitados na sua própria prosápia, uma maior força de sentimento diante dos novos quadros naturais que a luminosa Guanabara lhes dava, cercando as águas de mercúrio de suas harmoniosas enseadas? D. João VI, porém, nobre de alta linhagem e príncipe do século de Rousseau, mal enfronhado na literatura palerma dos árcades, dos desembargadores e repentistas, estava mais apto para senti-los de primeira mão, diretamente.
Considere o enunciado abaixo e as três propostas para completá-lo.
De acordo com esse fragmento,
1 - os “poetas mais velhos”, por serem brasileiros, são capazes de falar com propriedade da natureza.
2 - os escritores tinham a sensibilidade embotada pelo excesso de erudição.
3 - os poetas brasileiros, em seu processo de criação, foram influenciados pela mistura de raças.
Quais estão corretas?