DIÁLOGO FINAL
— É tudo que tem a me dizer? – perguntou ele.
— É! – ela respondeu.
— Você disse tão pouco.
— Disse o que tinha para dizer.
— Sempre se pode dizer mais alguma coisa.
— Que coisa?
— Sei lá. Alguma coisa.
— Você queria que eu repetisse?
— Não. Queria outra coisa.
— Que coisa é outra coisa?
— Não sei. Você devia saber.
— Por que eu deveria saber o que você não sabe?
— Qualquer pessoa sabe mais alguma coisa que outro não sabe.
— Eu só sei o que sei.
— Então não vai mesmo me dizer mais nada?
— Mais nada.
— Se você quisesse...
— Quisesse o quê?
— Dizer o que não tem pra me dizer. Dizer o que não sabe, o que eu queria ouvir de você.
Em amor é o que há de mais importante: o que a gente não sabe.
— Mas tudo acabou entre nós.
— Pois isso é o mais importante de tudo: o que acabou. Você não me diz mais nada sobre o que acabou?
Seria uma forma de continuarmos.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985. p. 70.
O texto aborda o fim de um relacionamento amoroso. No diálogo do casal, observa-se tensão e dificuldade de comunicação. Para conferir expressividade a essa situação, o autor empregou o(a)