Em Defesa dos Adjetivos
Muitas vezes nos mandam cortar nossos adjetivos. O bom estilo, conforme dizem, sobrevive perfeitamente sem eles; bastariam o resistente arco dos substantivos e a flecha dinâmica e onipresente dos verbos. Contudo, um mundo sem adjetivos é triste como um hospital no domingo. A luz azul se infiltra pelas janelas frias, as lâmpadas fluorescentes emitem um murmúrio débil.
Substantivos e verbos bastam apenas a soldados e líderes de países totalitários. Pois o adjetivo é o imprescindível avalista da individualidade de pessoas e coisas. […]
O adjetivo está para a língua assim como a cor para a pintura. […]
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Vida longa ao adjetivo! Pequeno ou grande, esquecido ou corrente. Precisamos de você, esbelto e maleável adjetivo que repousa delicadamente sobre coisas e pessoas e cuida para que elas não percam o gosto revigorante da individualidade. […]
[…] A memória é feita de adjetivos. Uma rua comprida, um dia abrasador de agosto, o portão rangente que dá para um jardim e ali, em meio aos pés de groselha cobertos pelo pó do verão, os teus dedos despachados… (tudo bem, teus é pronome possessivo).
Adam Zagajewski
Poeta, ensaísta e romancista polonês, publicou Another Beauty, sem edição no Brasil.
Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/ materia/em-defesa-dos-adjetivos/
O adjetivo pode exercer diferentes funções sintáticas. Assinale a alternativa em que o adjetivo destacado está corretamente classificado.