Deixou na portaria de Clarice Lispector uma pasta de plástico azul com um maço de poemas manuscritos, assinados I.J., e um bilhete em que se identificava como filho de Maria Jansen, pintora e professora de artes de quem talvez se lembrasse. Partiu ligeiro, com medo de topar com Clarice Lispector, e pegou um ônibus para a faculdade na Ilha do Governador. De noite, em casa, sua mãe respondeu que não, ninguém tinha ligado para ele, muito menos Clarice Lispector.
No domingo seguinte estremeceu ao ouvir a voz da própria, com seu sotaque estrangeiro, convidando-o para um café segunda à tarde. Ele não contava com um tête a tête, teria preferido uma carta comentando os poemas, mas matou a aula para comparecer ao apartamento na hora marcada. Tocou a campainha com suor nas mãos e, mais que frustração, sentiu alívio ao saber pela empregada que Clarice Lispector tinha saído para o cinema.
(Chico Buarque. Anos de chumbo e outros contos.)
Pode-se inferir, do trecho de texto apresentado, que o personagem a quem o narrador se refere sente-se