É aqui [no trapiche*] também que mora o chefe dos C apitães da Areia: Pedro Bala. Desde cedo foi chamado a ssim, desde seus cinco anos. Hoje tem quinze anos. Há dez que vagabundeia as ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer a cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus becos. [...]
Todos reconheceram os direitos de Pedro Bala à chefia, e foi desta época que a cidade começou a ouvir falar nos Capitães da Areia, crianças abandonadas que v iviam do furto. Nunca ninguém soube o número exato de meninos que assim viviam. Eram bem uns cem e destes mais de quarenta dormiam nas ruínas do velho trapiche.
Vestidos de farrapos, sujos, semiesfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da cidade, os que a conheciam totalmente, os que totalmente a amavam, os seus poetas.
(Jorge Amado. Capitães da Areia, 2010. Adaptado.)
*trapiche: armazém para depósito de mercadorias
Analisando este trecho do romance Capitães da Areia, conclui-se corretamente que essa obra pretende