É, pois, nas sociedades orais que não apenas a função da memória é mais desenvolvida, mas também a ligação entre o homem e a Palavra é mais forte. Lá onde não existe a escrita, o homem está ligado à palavra que profere. Está comprometido por ela. Ele é a palavra, e a palavra encerra um testemunho daquilo que ele é. (...)
Nas tradições africanas – pelo menos nas que conheço e que dizem respeito a toda a região de savana ao sul do Saara –, a palavra falada se empossava, além de um valor moral fundamental, de um caráter sagrado vinculado à sua origem divina e às forças ocultas nela depositadas. Agente mágico por excelência, grande vetor de “forças etéreas”, não era utilizada sem prudência.
Inúmeros fatores – religiosos, mágicos ou sociais – concorrem, por conseguinte, para preservar a fidelidade da transmissão oral (...).
(A. Hampaté Bâ. A tradição viva. In: J. Ki-Zerbo (org.). História geral da África, 1982.)
a) Escreva sobre a importância da criação da escrita na diferenciação entre sociedades pré-históricas e históricas, que esteve presente, durante muito tempo, no pensamento europeu.
b) A partir da interpretação do texto apresentado, escreva por que é possível escrever a história de sociedades orais.