Questão
Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
2008
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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É por causa do meu engraxate que ando agora em plena desolação. Meu engraxate me deixou. 

Passei duas vezes pela porta onde ele trabalhava e nada. Então me inquietei, não sei que doenças mortíferas, que mudança pra outras portas se passaram em mim, resolvi perguntar ao menino que trabalhava na outra cadeira. O menino é um retalho de hungarês, cara de infeliz, não dá simpatia alguma. E tímido, o que torna instintivamente a gente muito combinado com o universo no propósito de desgraçar esses desgraçados de nascença. “Está vendendo bilhete de loteria”, respondeu antipático, me deixando numa perplexidade penosíssima: pronto! Estava sem engraxate! Os olhos do menino chispavam ávidos, porque sou um dos que ficam fregueses e dão gorjeta. Levei seguramente um minuto pra definir que tinha de continuar engraxando sapatos toda a vida minha e ali estava um menino que, a gente ensinando, podia ficar engraxate bom.

(Mário de Andrade, Os Filhos da Candinha.)

A timidez do engraxate despertava no narrador um sentimento de
A
pena dele e daqueles que, como ele, também viviam mal.
B
repulsa por ele e pelos de sua condição de malnascido.
C
enternecimento por ele e pelos malnascidos, por sua natural infelicidade.
D
distanciamento dele e daqueles que o viam com interesse.
E
indignação com ele e com aqueles que pouco faziam para progredir