Questão
Provão de Bolsas Estratégia
2020
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa.

É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha
natureza que quer a morte de um rato.

(Perdoando Deus, Clarice Lispector, em “Felicidade clandestina”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998)

O Modernismo de 45, movimento literário em que a crítica convenciona colocar Clarice Lispector, foi caracterizado principalmente pela/pelo
A
crítica social à burguesia e seu modo de viver.
B
surgimento do gênero de prosa documental. 
C
influência da psicanálise e das noções de inconsciente.
D
revisão crítica do passado histórico brasileiro.
E
utilização da linguagem formal aliada à ficção experimental.