EDITORIAL
JORNAL DA CIÊNCIA – JUNHO/JULHO DE 2022
Hora de paz
As primeiras décadas do Segundo Milênio têm sido de acirramento de conflitos no Brasil e no mundo. Esta edição do Jornal da Ciência está dedicada a entender as desavenças, como surgem, como se desenrolam, quais as consequências e como a ciência pode contribuir.
Primeiro, há um novo perfil de guerras no qual o embate Rússia-Ucrânia, em que um estado ataca outro, é ponto fora da curva. Segundo estatísticas apuradas por pesquisadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, desde os anos 1980, as grandes guerras entre estados foram sendo substituídas por ataques de grupos civis organizados dentro dos países ou entre países.
Nem por isso provocam menos mortes, ao contrário. Foram mais de 119.100 mortes por violência organizada em 2021, um aumento de 46% em relação a 2020, ano da pandemia. Outro dado aterrador sobre as guerras modernas é o uso de veículos aéreos não tripulados (VANTs), ou drones, que tem expandido em grande escala a capacidade de destruição.
Apresentado à opinião pública como instrumentos de “ataques cirúrgicos”, capazes de atingir apenas os alvos, reduzindo os danos colaterais e as mortes de inocentes civis, os drones têm trazido resultados bem diferentes, na prática. É uma tecnologia que subverte o conceito do que é guerra, ao invadir estados sem pessoas e substituir o trabalho dos exércitos humanos, evitando as cenas de caixões desembarcando de aviões com soldados mortos nos campos de batalha, o que sempre provocou reviravoltas na opinião pública sobre as guerras.
No Brasil, os conflitos se acirraram nos últimos seis anos, tanto nos cenários urbanos quanto nos rurais. Embora o número geral de homicídios tenha diminuído, a violência cresceu na região Norte e as grandes vítimas têm sido os indígenas. Em entrevista ao JC, a antropóloga Marta Maria Do Amaral Azevedo, primeira mulher a presidir a Funai, faz um relato sobre os povos Guarani e Kaiowá, do cone Sul do Mato Grosso do Sul, que estão sendo diariamente atacados e ameaçados por seguranças dos fazendeiros da região, com a conivência da instituição que deveria defendê-los.
Como a ciência pode contribuir para a paz? Para a professora Elisa Reis, a ciência pode fornecer informações claras e chamar a atenção para as consequências coletivas das ações, fornecer evidências claras para pessoas, os formuladores de políticas públicas que promovam o entendimento e o desenvolvimento humano.
Esperamos que essa edição traga elementos, não para pessimismo, mas para reflexão sobre como viver e reagir a tanta violência, no momento em que nos preparamos para as eleições gerais de outubro.
Boa Leitura!
Renato Janine Ribeiro | Presidente da SBPC Fernanda Sobral | Vice-presidente da SBPC
Fonte: Jornal da Ciência. Edição 799, jun/jul 2022. Disponível em http://www.jornaldaciencia.org.br/edicoes/?url=http://jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/category/pdf/. Acesso em 08 set 2022.
Releia o 4º parágrafo:
Apresentado à opinião pública como instrumentos de “ataques cirúrgicos”, capazes de atingir apenas os alvos, reduzindo os danos colaterais e as mortes de inocentes civis, o uso de drone tem trazido resultados bem diferentes, na prática. É uma tecnologia que subverte o conceito do que é guerra, ao invadir estados sem pessoas e substituir o trabalho dos exércitos humanos, evitando as cenas de caixões desembarcando de aviões com soldados mortos nos campos de batalha, o que sempre provocou reviravoltas na opinião pública sobre as guerras. (4º parágrafo)
Nele, a oração reduzida adverbial de gerúndio “evitando as cenas de caixões desembarcando de aviões com soldados mortos nos campos de batalha”, pode ser reescrita, sem alteração de sentido, por: