Entrava dia e saía dia. As noites cobriam a terra de chofre. A tampa anilada baixava, escurecia, quebrada apenas pelas vermelhidões do poente.
Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças e os seus pavores. O coração de Fabiano bateu junto do coração de sinha Vitória, um abraço cansado aproximou os farrapos que os cobriam. Resistiram à fraqueza, afastaram-se envergonhados, sem ânimo de afrontar de novo a luz dura, receosos de perder a esperança que os alentava.
Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes um preá. Levantaram-se todos gritando. O menino mais velho esfregou as pálpebras, afastando pedaços de sonho. Sinha Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o focinho estava ensanguentado, lambia o sangue e tirava proveito do beijo. Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiaria a morte do grupo. E Fabiano queria viver. Olhou o céu com resolução. A nuvem tinha crescido, agora cobria o morro inteiro. Fabiano pisou com segurança, esquecendo as rachaduras que lhe estragavam os dedos e os calcanhares.
Fonte: RAMOS, G. Vidas Secas. Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 14.
01) Ao refletirmos sobre a oração “As noites cobriam a terra de chofre” podemos inferir que o anoitecer acontecia muito rapidamente.
02) Ao lermos o segmento “Aquilo era caça bem mesquinha”, podemos compreender que a presa trazida pelo cão era pequena.
04) Ao analisarmos o período “Olhou o céu com resolução”, podemos entender que o personagem Fabiano passou a exibir determinação.
08) Ao pensarmos sobre a frase “Iam-se amodorrando”, podemos perceber que o grupo dos personagens estava caindo no sono.