Questão
Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP
2011
Fase Única
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Entrei numa lida muito dificultosa. Martírio sem fim o não entender nadinha do que vinha nos livros e do que o mestre Frederico falava. Estranheza colosso me cegava e me punha tonto. Acho bem que foi desse tempo o mal que me acompanha até hoje de ser recanteado e meio mocorongo, Com os meus em casa, conversava por trinta, tinha ladineza e entendimento. Na rua e na escola – nada; era completamente afrásico. As pessoas eram bichos do outro mundo que temperavam um palavreado grego de tudo.

Já sabia ajuntar as sílabas e ler por cima toda coisa, mas descrencei e perdi a influência de ir à escola, porque diante dos escritos que o mestre me passava e das lições marcadas nos livros, fiquei sendo um quarta-feira de marca maior. Alívio bom era quando chegava em casa.

Os meninos que arrumei para meus companheiros eram todos filhos de baiano. Conversavam muito diferente do que estava escrito nos livros e mais diferente ainda da gente de minha parentalha. Custei a danar a aprender a linguagem deles e aqueles trancas não quiseram aprender a minha. Faziam era caçoar. Nestes casos, por exemplo: eu falava “sungar”, os meninos da rua falavam “arribar”, e mestre Frederico dizia “erguer”. Em tudo o mais era um angu-de-caroço que avemaria.

Carmo Bernardes. Rememórias Dois. Goiânia: Leal, 1969, p.18.

Assinale a alternativa correta em relação à personagem/menino.
A
A pressão comunicativa era grande no meio familiar, o que o obrigou a “conversar por trinta”.
B
Por não conseguir ler e escrever, perdeu o interesse de ir à escola.
C
O menino percebeu que só o professor utilizava a forma culta da língua, os demais alunos faziam o mesmo uso da língua que ele.
D
O uso formal da língua utilizado pelo professor desencadeou no menino, em sala de aula, insegurança linguística.
E
“Tudo mais era um angu-de caroço que avemaria”, com essa afirmativa o menino quis mostrar que os alunos faziam muita bagunça na sala de aula.