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Esboroou-se o balsâmico indianismo de Alencar ao advento dos Rondons que, ao invés de imaginarem índios num gabinete, com reminiscências de Chateaubriand na cabeça e a Iracema aberta sobre os joelhos, metem-se a palmilhar sertões de Winchester em punho.
Morreu Peri, incomparável idealização dum homem natural como o sonhava Rousseau, protótipo de tantas perfeições humanas que no romance, ombro a ombro com altos tipos civilizados, a todos sobrelevava em beleza d’alma e corpo.
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Não morreu, todavia. Evoluiu.
O indianismo está de novo a deitar copa, de nome mudado. Crismou-se de “caboclismo”. O cocar de penas de arara passou a chapéu de palha rebatido à testa; o ocara virou rancho de sapé; o tacape afilou, criou gatilho, deitou ouvido e é hoje espingarda troxadal o boré descaiu lamentavelmente para pio de inambu; a tanga ascendeu a camisa aberta ao peito.
LOBATO. Monteiro. Urupês. In: Urupês. Porto Alegre: Globo, 2007.
Sobre os excertos de “Urupês”, conto do escritor Monteiro Lobato publicado em 1918 na coletânea de mesmo nome, bem como acerca da produção literária do PréModernismo na qual a obra se enquadra, analise as afirmações a seguir e assinale a alternativa que aponta as corretas.
I. A prosa adulta de Monteiro Lobato possui contornos regionalistas, ao passo que o autor escolhe como pano de fundo para suas narrativas as cidades da região do Vale do Paraíba, retratando, em tom de denúncia, as problemáticas sociais lá encontradas.
II. Em “Urupês”, Monteiro Lobato apresenta um dos personagens mais conhecidos da literatura brasileira, o Jeca Tatu, uma representação estereotipada do caboclo, a quem o autor direciona duras críticas e responsabiliza pelo atraso no desenvolvimento da nação.
III. Para tecer sua crítica ao caboclo, Monteiro Lobato estabelece uma relação de intertextualidade com escritos do Romantismo de modo a demonstrar a distância entre o herói nacional idealizado pelos românticos frente à imagem do homem resultante da miscigenação.
IV. Ao lado de outros escritores prémodernistas, como Lima Barreto e Euclides da Cunha, Monteiro Lobato realiza uma análise positivista da realidade, dando preferência ao uso do discurso científico em detrimento de uma visão moralista e doutrinária sobre a condição do povo brasileiro.
V. Ao apresentar o caboclo como representação máxima do homem brasileiro, Monteiro Lobato revela sua face antinacionalista, defendendo o retorno ao modelo imperial para que a nação pudesse finalmente alcançar o progresso cultural e científico no século XX.