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“Eu vim preguntar a vosmecê uma opinião sua explicada…”
Carregara a celha. Causava outra inquietude, sua farrusca, a catadura de canibal. Desfranziu- se, porém, quase que sorriu. Daí, desceu do cavalo; maneiro, imprevisto. Se por se cumprir do maior valor de melhores modos; por esperteza? Reteve no pulso a ponta do cabresto, o alazão era para paz. O chapéu sempre na cabeça. Um alarve. Mais os ínvios olhos. E ele era para muito. Seria de ver-se: estava em armas — e de armas alimpadas. Dava para se sentir o peso da de fogo, no cinturão, que usado baixo, para ela estar-se já ao nível justo, ademão, tanto que ele se persistia de braço direito pendido, pronto meneável. Sendo a sela, de notar-se, uma jereba papuda urucuiana, pouco de se achar, na região, pelo menos de tão boa feitura. Tudo de gente brava. Aquele propunha sangue, em suas tenções. Pequeno, mas duro, grossudo, todo em tronco de árvore. Sua máxima violência podia ser para cada momento. Tivesse aceitado de entrar e um café, calmava-me.
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ROSA, J. G. Famigerado. In: Ficção completa, em dois volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
João Guimarães Rosa é um dos principais nomes da literatura brasileira. Inserido na Terceira Geração Modernista, o autor destaca-se por seu estilo único, com linguagem peculiar, apresentando ao mundo o “sertão universal” no qual as questões humanas ganham uma nova dimensão. Algumas marcas de sua prosa que podem ser observadas nesse excerto lido de “Famigerado” são: