“A Europa precisa de imigrantes”: isso foi declarado com todas as letras por Massimo d’Alema, atual presidente da Fundação Europeia de Estudos Progressistas, ao Le Monde de 10 de maio de 2011 –numa disputa direta, segundo ele, com “os dois piromaníacos mais ativos da Europa”, Berlusconi e Sarkozy. Os cálculos que sustentam o veredicto de d’Alema dificilmente poderiam ser mais simples: há hoje 333 milhões de europeus, mas com a atual taxa de natalidade (ainda em queda por toda a Europa), esse número vai encolher para 242 milhões nos próximos quarenta anos. Para preencher esse vazio, serão necessários pelo menos 30 milhões de forasteiros –ou a economia europeia entrará em colapso, e com ele nosso estimado padrão de vida. “Os imigrantes são um recurso, não um perigo”, conclui d’Alema. E assim também o processo de métissage (hibridização) cultural que o influxo de recém-chegados tende a desencadear, isso é inevitável; a mistura de inspirações culturais é fonte de enriquecimento e motor da criatividade –tanto para a civilização europeia como para qualquer outra. da mesma forma, há somente uma linha tênue a separar esse enriquecimento de uma perda da identidade cultural; para evitar que a coexistência entre autóctones (habitantes nativos) e alóctones (os que vieram de outros lugares) venha a solapar o patrimônio cultural, ela precisa basear-se nos princípios subjacentes ao “contrato social” europeu. A questão é que esse contrato, que não foi escrito nem assinado, precisa ser respeitado por ambos os lados!
Mas como se pode garantir esse respeito se o reconhecimento dos direitos sociais e civis dos “novos europeus” é oferecido de modo tão mesquinho e tão lento, e avança a ritmo tão vagaroso? Por exemplo, os imigrantes contribuem atualmente com 11% do Produto Nacional Bruto (PNB) italiano, mas não têm o direito de votar nas eleições. Além disso, ninguém pode dizer com certeza quantos recém-chegados sem documentos, nem ao menos falsificados, contribuem ativamente para o PNB e, assim, para o bem-estar de uma nação. “Como pode a união Europeia”, pergunta d’Alema, de modo quase retórico, “permitir uma situação em que se negam direitos políticos, econômicos e sociais a uma parcela substantiva da população, sem minar nossos princípios democráticos?” Como deveres e direitos dos cidadãos vêm no mesmo pacote, uma vez mais, em princípio, será possível esperar seriamente que os recém-chegados abracem, respeitem, sustentem e defendam esses “princípios subjacentes ao contrato social europeu”? Nossos políticos ganham apoio eleitoral culpando os imigrantes, por sua relutância, genuína ou putativa, em “se integrar” aos padrões autóctones –enquanto fazem o possível, e prometem fazer mais ainda, para situar esses padrões além do alcance dos alóctones. Nesse processo, depreciam ou solapam os mesmos padrões que afirmam estar protegendo da invasão estrangeira.
BAUMAN, Z. Sobre educação e juventude: Conversas com Riccardo Mazzeo. São Paulo: Zahar, 2014.
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