Questão
Simulado ENEM
2021
Fase Única
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“Existem três tipos de pessoas. As de cima, as de baixo e as que caem”. Não há melhor frase em O Poço para iniciar a fábula sádica que é o filme. Em tempos que vivemos um distanciamento social, não só por diferenças políticas, mas também pela já conhecida estrutura socioeconômica que afasta cada vez mais a população de um país que batalha por mais igualdade, é de se parabenizar a Netflix por nos dar acesso a uma obra que retrata, de maneira abstrata, nosso mundo de uma maneira tão assustadora quanto atual.

Situado dentro de uma prisão vertical conhecida como O Poço, o longa é protagonizado por Goreng (Ivan Massagué, brilhante no papel), um homem que faz por conta própria a escolha de ir para o local com o intuito de parar de fumar. Lá dentro, ele conhece o velho Trimagasi (Zorion Eguileor), seu “companheiro de cela”. Há meses na prisão, o ancião explica para o jovem como funciona o dia a dia: não há contato com a luz do sol e nem tempo para esticar as pernas e se exercitar do lado de fora. A única ação que ambos têm durante todo o tempo é esperar por uma plataforma de comida que se move para baixo entre os andares todos os dias. Como Goreng e Trimagasi estão no nível 48 do Poço, eles precisam aguardar que os dois presos em cada um dos 47 níveis acima se alimentem até que os restos cheguem ao seu andar.

Preparado no nível zero, o luxuoso banquete fica em todos os níveis por apenas dois minutos antes de descer para o próximo. Nenhum preso pode segurar restos consigo, com o perigo de receber punição. Conforme o tempo passa, Trimagasi explica para o protagonista que nem sempre eles terão com o que se alimentar e que os presos dos andares de cima pouco se importam com quem está abaixo. O único alento, e também o maior medo de quem vive no Poço, é que a cada 30 dias as duplas trocam de lugar aleatoriamente. Quem está no nível um pode ir parar no 147, e quem está no 147 pode ir para o nível um. Essa dinâmica força com que todos os presos passem pelas mais diferentes situações, o que em alguns casos pode significar atingir o limite que um ser humano pode chegar ao tentar manter a sanidade passando muita fome.

Mesmo em sua estreia como diretor de longa-metragem, Galder Gaztelu-Urrutia surpreende com uma narrativa que usa elementos de filme de horror gore para dissecar a estrutura socioeconômica que vivemos perante o capitalismo. É uma metáfora sobre os terrores desse sistema, onde cada indivíduo se debulha durante o seu tempo no topo, enquanto as massas invisíveis no fundo se comem vivas.

(Disponível em: https://www.omelete.com.br/netflix/criticas/o-poco-netflix-critica Acesso em 22 de julho de 2021)

Na construção textual, o autor realiza escolhas para cumprir determinados objetivos. Nesse sentido, a função social desse texto é
A
interpretar a obra a partir dos acontecimentos da narrativa.
B
apresentar o resumo do conteúdo da obra de modo impessoal.
C
fazer a apreciação de uma obra a partir de uma síntese crítica.
D
informar o leitor sobre a veracidade dos fatos descritos na obra.
E
classificar a obra como algo negativo para a sociedade que a consome.