Questão
Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
2004
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco – é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso – por estúrdio que me vejam – é de minha certa importância. Tomara não fosse... Mas, não diga que o senhor, assisado e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já sabia, esperava por ela – já o campo! Ah, a gente, na velhice, carece de ter uma aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito. Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar... Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças – eu digo. Pois não é o ditado: “menino – trem do diabo”? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra,
no vento... Estrumes... O diabo na rua, no meio do redemunho... 

(Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas.)

A fala expressa no texto é de Riobaldo. De acordo com o narrador, o diabo
A
vive preferencialmente nas crianças, livre e fazendo as suas traquinagens.
B
é capaz de entrar no corpo humano e tomar posse dele, vivendo aí e perturbando a vida do homem.
C
só existe na mente das pessoas que nele acreditam, perturbando-as mesmo sem existir concretamente.
D
não existe como entidade autônoma, antes reflete os piores estados emocionais do ser humano.
E
é uma condição humana e não está relacionado com as coisas da natureza.