Fragmento do livro Mad Maria do escritor Márcio Souza (1946), que trata da construção de uma ferrovia na Amazônia, na virada do século XIX para o XX, e, entre outros aspectos, do ambiente de violência e corrupção em que se deu essa empreitada.
Seabra apresentou o processo de construção das escolas públicas nos Estados nordestinos com o parecer favorável e a minuta dos correspondentes decretos. Hermes recebeu os papéis e os examinou cuidadosamente, fazendo perguntas sobre o número de crianças que seriam beneficiadas, se o ministro da Educação estava disposto a aumentar o quadro de professores naquelas regiões e outras questões relacionadas ao problema. Seabra, acostumado com esta minuciosa prospecção do presidente, foi respondendo cada pergunta com aquilo que o idealismo de Hermes queria ouvir. Assim, ao contrário de dizer ao presidente que as escolas só iriam beneficiar os políticos locais, ganhando-os para o governo, respondeu que cerca de duzentas e cinquenta crianças poderiam receber as primeiras letras naquelas escolas e que o problema do professorado era assunto estadual e não federal, portanto o ministro da Educação nada tinha que se preocupar. Mas não contou que a contratação dos professores seria outro maná para os políticos locais, que ocupariam os novos cargos com cabos eleitorais e correligionários que certamente jamais poderiam ensinar crianças se vivessem num país decente que realmente se preocupasse com o futuro. Mas o Brasil era assim e seria difícil, perigoso e pouco lucrativo tentar mudar alguma coisa. O presidente parecia satisfeito com as explicações, com os orçamentos, e prometeu despachar o processo naquele mesmo dia, já que se tratava de um caso puramente do Executivo e que não precisava de aprovação do Congresso.
(Márcio Souza, Mad Maria.)
Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
Para a levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.
(Gregório de Matos, Obra poética.)
A delegação brasileira de atletismo que vai disputar o Mundial de Berlim, a partir do dia 15, é protagonista do maior flagrante de doping da história nacional da modalidade.
Dos 45 classificados, seis foram flagrados no antidoping. Somente em 2009, foram constatados sete casos de doping no país. Isso significa quase um terço do total de casos desde 2003, quando os exames começaram a ser feitos no Brasil de acordo com as normas da Agência Mundial Antidoping.
Ontem, a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) anunciou que os exames das amostras “A” de Bruno Lins e Jorge Célio (ambos dos 200 m e 4 x 100 m), Josiane da Silva (4 x 400 m), Luciana França (400 m com barreiras) e Lucimara Silvestre (heptatlo) – todos da Rede Atletismo – deram positivo para a substância EPO (Eritropoietina). Foram resultado de teste-surpresa, em 15 de junho, em Presidente Prudente.
O resultado dos exames foi enviado anteontem pelo laboratório Armand Frapier, credenciado pela Iaaf (entidade que gerencia o atletismo), em Montréal, no Canadá. Há uma semana, a CBAt divulgou também o caso de Lucimar Teodoro (400 m com barreiras). O exame da atleta, também integrante da Rede, deu positivo para um estimulante. Seu antidoping havia sido feito no Troféu Brasil.
(...)
(José Eduardo Martins e Mariana Bastos. Folha de S.Paulo, 05.08.2009.)
Com base nas informações fornecidas pelo texto sobre doping e comparando-o com os textos anteriores, assinale a alternativa que indica uma hipótese plausível a que se pode chegar.