Fundador da Saladorama leva alimentação saudável às favelas a um preço acessível e ajuda a mudar hábitos dos moradores
Nada de CEO, CFO, COO ou outras siglas corporativas estrangeiras. O cargo de Hamilton Henrique é Gestor de Encantamento. As sócias Mariana Fernandes e Maria Isabela Ribeiro são, respectivamente, Gestora de Sabores e Gestora de Eficiência. “Se usássemos aqueles termos, a favela não ia nos reconhecer”, explica ele, cofundador, em 2015, do Saladorama, negócio social que tem como objetivo democratizar o acesso à alimentação saudável e ser fonte de renda para os moradores de comunidade. [...]
MAURO VENTURA – Você teve outras fontes de inspiração?
HAMILTON HENRIQUE – Minha avó materna, Julia, e meu avô paterno, Hamilton, tiveram problemas de saúde por conta da má alimentação. Ela trabalhava no canavial em troca de um prato de comida e perdeu a visão do olho esquerdo por causa do diabetes. Ele teve hipertensão e perdeu um dedo. Foi doloroso não ter podido fazer nada. O Saladorama é uma forma de ajudar outras pessoas a não passar pelos mesmos dramas que eles.
MAURO VENTURA – E como surge o Saladorama?
HAMILTON HENRIQUE – Saí do emprego, peguei os R$220 da rescisão, desenvolvi as embalagens, comprei os primeiros lotes de verduras e legumes orgânicos, preparei as saladas e fui vender em ônibus. Contava a história do produto e perguntava quanto achavam que valia. Pagavam o que achavam justo. Em seguida, o projeto foi acelerado pela Yunus Negócios Sociais Brasil. Lá conheci o Gilson, da favela Dona Marta, que me chamou para abrir uma unidade no morro. Antes, fui morar lá por um mês. Puxava papo na pelada, conversava no comércio, comentava na hora de empinar pipa: “Ai, que vontade de comer uma salada”. E via a reação. Até hoje é assim, primeiro fico um, dois meses morando na comunidade para entender as rotinas e convidar os moradores a experimentar algo diferente. Afinal, mais que apenas vender saladas a ideia é mudar hábitos alimentares, ajudar na prevenção de doenças, evitar o uso de fármacos e melhorar a qualidade de vida de quem mora na favela.
(*Mauro Ventura entrevista Hamilton Henrique na coluna “Dois cafés e a conta com...”. O Globo. Maio de 2018. Adaptado.)
No trecho “[...] leva alimentação saudável às favelas [...]” pode-se afirmar que há uma relação de regência