Questão
Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD
2007
Fase Única
੦ Português
੦ Português
Gramática
Interpretação de texto
GENOCIDIO-crianc-batem21647d26912
GENOCÍDIO

( crianças batem palmas nos portões )

tem pão velho ?

não, criança
tem o pão que o diabo amassou
tem sangue de índios nas ruas
e quando é noite
a lua geme aflita
por seus filhos mortos.

tem pão velho ?

não, criança
temos comida farta em nossas mesas
abençoada de toalhas de linho, talheres
temos mulheres servis, geladeiras
automóveis, fogão
mas não temos pão.

tem pão velho ?

não, criança
temos asfalto, água encanada
super-mercados, edifícios
temos pátria, pinga, prisões
armas e ofícios
mas não temos pão.

tem pão velho ?

não, criança
tem sua fome travestida de trapos
nas calçadas
que tragam seus pezinhos
de anjo faminto e frágil
pedindo pão velho pela vida
temos luzes sem alma pelas avenidas
temos índias suicidas
mas não temos pão.

tem pão velho ?

não, criança
temos mísseis, satélites
computadores, radares
temos canhões, navios, usinas nucleares
mas não temos pão.

tem pão velho ?

não, criança
tem o pão que o diabo amassou
tem sangue de índios nas ruas
e quando é noite
a lua geme aflita
por seus filhos mortos.

tem pão velho ?

Marinho, Emmanuel. Margem de papel. Manuscrito, Dourados, 1994.

O poema “Genocíndio”, escrito pelo poeta douradense Emmanuel Marinho, refere-se à situação das crianças índias da Reserva Indígena de Dourados. O pedido que as crianças índias fazem à porta das casas — “tem pão velho?” — é recorrente, invariável como um chavão, toda a população da cidade o conhece e o identifica. Contudo, ele poderia ser formulado de inúmeras outras formas. 

A formulação, como se apresenta, “tem pão velho?”, significa que.
A
as crianças índias preferem o pão velho a qualquer outro alimento.
B
o sujeito destinador dessa mensagem (a criança índia) revela-se humilde e deixa pressuposta, em sua fala, a consciência de que, ao atender seu pedido, o destinatário lhe oferecerá o que possui de mais dispensável (no caso, pão velho, pão amanhecido).
C
as crianças índias estão habituadas a só receber pão velho, então nem se arriscam a pedir outra coisa.
D
as crianças índias pedem o que de pior poderiam receber (pão velho), julgando que qualquer outra coisa que vier além disso é vantajosa.
E
as crianças índias pedem às portas das casas por pedir, para elas é indiferente se vão receber algo.