Gosto de pensar na relação entre arte e psicanálise como uma fita de Moebius – figura topológica que surgirá muitas vezes ao longo deste livro. Assim como posso, passeando o dedo por sua superfície, passar de dentro para fora e logo, em continuidade, de fora para dentro, tento deslizar entre os dois campos de modo a dar voz ora a um, ora ao outro, pondo em prática uma torção que talvez defina a ambos.
Mais do que forçar um diálogo entre dois campos bem delimitados culturalmente, trata-se aqui da tentativa de explicitar algo que ambos exploram de modos diferentes: uma reversão do eu e do mundo, uma “cambalhota no cosmos sobre si mesmo” - como dizia Mario Pedrosa – que nos convida a reconfigurar a relação com nós mesmos e com o outro. Tal convite, como uma mensagem de um náufrago jogada ao mar, é um gesto efêmero que pode nunca
chegar a seu destino, mas repete-se como endereçamento e assim pode se transmitir de modo sempre imprevisível. Esse gesto vai (re)construindo, assim, a cultura como “raiz aberta”, para usar a expressão de Helio Oiticica: algo
que já está lá mas deve ser reinventado, em um incessante apelo ao outro.
(Rivera, Tania. O avesso do imaginário: Arte contemporânea e psicanálise. São Paulo: Cosac Naify, 2014.)
Para expor sua percepção sobre a relação entre arte e psicanálise, a autora emprega