Questão
Universidade de Taubaté - UNITAU
2012
1ª Fase
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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Hierarquia

Diz que um leão enorme ia andando chateado, não muito rei dos animais, porque tinha acabado de brigar com a mulher e esta lhe dissera poucas e boas.¹

Eis que, subitamente, o leão defronta com um pequeno rato, o ratinho mais menor (sic) que ele já tinha visto. Pisou-lhe a cauda e, enquanto o rato forçava inutilmente pra escapar, o leão gritava: "Miserável criatura, estúpida, ínfima, vil, torpe: não conheço na criação nada mais insignificante e nojento. Vou te deixar com vida apenas para que você possa sofrer toda a humilhação do que lhe disse, você, desgraçado, inferior, mesquinho, rato!" E soltou-o.

O rato correu o mais que pôde, mas, quando já estava a salvo, gritou pro leão: "Será que V. Excelência poderia escrever isso pra mim? Vou me encontrar com uma lesma que eu conheço e quero repetir isso pra ela com as mesmas palavras!"²

1- Quer dizer: muitas e más.

2- Na grande hora psicanalítica, que soa para todos nós, a precisão de linguagem é fundamental.

MORAL: Afinal ninguém é tão inferior assim.

SUBMORAL: Nem tão superior, por falar nisso.

Millôr Fernandes. Disponível em http://entretenimento.uol.com.br/humor/index.jhtm Data de acesso: 27/05/2011

Capítulo XCVI

E o homem empurrado, apenas sentiu o empurrão. Caminhava absorto, mas contente, espraiando a alma, desabafado de cuidados e fastios. Era o diretor de banco, o que acabava de fazer a visita de pêsames ao Palha. Sentiu o empurrão, e não se zangou; consertou o sobretudo e a alma, e lá foi andando tranquilamente.

Convém dizer, para explicar a indiferença do homem, que ele tivera, no espaço de uma hora, comoções opostas. Fora primeiro à casa de um ministro de Estado, tratar do requerimento de um irmão. O ministro, que acabava de jantar, fumava calado e pacífico. O diretor expôs atrapalhadamente o negócio, tornando atrás, saltando adiante, ligando e desligando as frases. Mal sentado, para não perder a linha do respeito, trazia na boca um sorriso constante e venerador; e curvava-se, pedia desculpas. O ministro fez algumas perguntas; ele, animado, deu respostas longas, extremamente longas, e acabou entregando um memorial. Depois ergueu-se, agradeceu, apertou a mão ao ministro, este acompanhou-o até à varanda. Aí fez o diretor duas cortesias, uma em cheio, antes de descer a escada, outra em vão, já embaixo, no jardim; em vez do ministro, viu só a porta de vidro fosco, e na varanda, pendente do teto, o lampião de gás. Enterrou o chapéu, e saiu. Saiu humilhado, vexado de si mesmo. Não era o negócio que o afligia, mas os cumprimentos que fez, as desculpas que pediu, as atitudes subalternas, um rosário de atos sem proveito. Foi assim que chegou à casa do Palha.

Em dez minutos, tinha a alma espantada e restituída a si mesma, tais foram as mesuras do dono da casa, os apoiados de cabeça, e um raio de sorriso perene, não contando oferecimentos de chá e charutos. O diretor fez-se então severo, superior, frio, poucas palavras; chegou a arregaçar com desdém a venta esquerda, a propósito de uma ideia do Palha, que a recolheu logo, concordando que era absurda. Copiou do ministro o gesto lento. Saindo, não foram dele as cortesias, mas do dono da casa.

Estava outro, quando chegou à rua, daí o andar sossegado e satisfeito, o espraiar da alma devolvida a si própria, e a indiferença com que recebeu o embate do Rubião. Lá se ia a memória dos seus rapapés; agora o que ele rumina saborosamente são os rapapés de Cristiano Palha.

MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Quincas Borba. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000243.pdf. Data de acesso: 27/05/2011.

Considere as seguintes afirmações:

I- No texto 1, Millôr Fernandes usa a expressão ‘não muito rei dos animais’ para mostrar que, tendo brigado com a mulher, naquele momento, sentia-se inferiorizado.

II- A moral da fábula de Millôr nada tem de moralizante, pois não constitui um princípio de conduta ética, embora a história mostre comportamentos reprováveis.

III- O texto 2, de Machado de Assis, poderia receber a seguinte moral: Não faça para o próximo o que você não quer que façam para você.

Está CORRETO o que se afirma em:
A
apenas I.
B
apenas I e II.
C
apenas II e III.
D
apenas I e III.
E
I, II e III.