I.
Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!
Quem era a flor? Capitu, naturalmente; mas podia ser a virtude, a poesia, a religião, qualquer outro conceito a que coubesse a metáfora da flor, e flor do céu. Aguardei o resto, recitando sempre o verso, e deitado ora sobre o lado direito, ora sobre o esquerdo; afinal deixei-me estar de costas, com os olhos no teto, mas nem assim vinha mais nada. Então adverti que os sonetos mais gabados eram os que concluíam com chave de ouro, isto é, um desses versos capitais no sentido e na forma. Pensei em forjar uma de tais chaves, considerando que o verso final, saindo cronologicamente dos treze anteriores, com dificuldade traria a perfeição louvada; imaginei que tais chaves eram fundidas antes da fechadura. Assim foi que me determinei a compor o último verso do soneto, e, depois de muito suar, saiu este:
Perde-se a vida, ganha-se a batalha!
ASSIS, Machado de. Um soneto. Dom Casmurro. 29. ed. São Paulo: Ática, 1995. p. 84.
II.
[...] O resto deste capítulo é só para pedir que, se alguém tiver de ler o meu livro com alguma atenção mais da que lhe exigir o preço do exemplar, não deixe de concluir que o diabo não é tão feio como se pinta. Quero dizer...
Quero dizer que o meu vizinho de Matacavalos, temperando o mal com a opinião anti-russa, dava à podridão das suas carnes um reflexo espiritual que as consolava. Há consolações maiores, e uma das mais excelentes é não padecer esse nem outro mal algum, mas a natureza é tão divina, que se diverte com tais contrastes, e aos mais nojentos ou mais aflitos acena com uma flor. E talvez saia assim a flor mais bela; o meu jardineiro afirma que as violetas, para terem um cheiro superior, hão mister de estrume de porco. Não examinei, mas deve ser verdade.
ASSIS, Machado de. O diabo não é tão feio como se pinta. Dom Casmurro. 29. ed. São Paulo: Ática, 1995. p. 125.
Marque com V ou com F, conforme sejam verdadeiras ou falsas as afirmativas.
Comparando-se os dois textos, está correto o que se afirma em
( ) No texto I, o narrador se autopromove como poeta, ressaltando o seu talento para compor versos; já no II, o narrador desconstrói um pensamento-clichê para fazer uma crítica à conduta moral do ser humano.
( ) No texto I, a metáfora da flor remete o leitor a uma visão romântica de mundo, que é encarada com ironia pelo narrador; já no texto II, a imagem da flor violeta associa-se a uma visão realista/naturalista.
( ) Tanto no texto I quanto no II, o narrador assume uma atitude crítica mesclada com o humor em face daquilo que é narrado.
( ) Em ambos os textos, apresenta-se uma imagem idealizada da realidade em foco.
A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a