Questão
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais - IFNMG
2014
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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Instrução: leia os fragmentos do poema "O navio negreiro" e responda o que se pede:

TEXTO VII

I -
"'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar - dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
(...)

IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
Astros! Noites! Tempestades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
(...)
Dize-o tu, severa musa,
Musa libérrima, audaz!
São os filhos do deserto
Onde a terra esposa a luz.
Onde voa em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados,
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão...
Homens simples, fortes, bravos...
Hoje míseros escravos
Sem ar, sem luz, sem razão...
(...)

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

V
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co‘ a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão.?...

VI
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! Meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no seu pranto...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

(ALVES, Castro. O navio negreiro e outros poemas, São Paulo: Saraiva, 2007. p.10-16)

Sobre o poema anterior NÃO é correta a seguinte afirmativa: 
A
O poema traz como tema principal a denúncia do tráfico negreiro e, consequentemente, da escravidão ainda praticada no Brasil. O eu lírico pretende sensibilizar o receptor por meio de vários recursos linguístico-estilísticos tais como adjetivação (com sua carga emotiva), exclamações, interrogações, a figura de pensamento denominada apóstrofe, a metáfora, a comparação, antíteses, dentre outros recursos.
B
O poema denuncia o cenário horroroso dos navios negreiros, para tanto, o poeta recorre a metáforas que revelam a tirania do Capitão. Os trechos "a orquestra irônica estridente...", "a serpente faz doidas espirais...", "Fazei-os mais dançar!..." são bons exemplos de imagens que caracterizam essa tirania.
C
O poema O navio negreiro é representativo da 3ª geração do romantismo brasileiro, denominada geração humanista ou condoreira. Essa geração é caracterizada pelo pessimismo, individualismo, melancolia, descrença na vida, evasão, desejo de morte, enfim, por um conjunto de comportamentos e sentimentos que foi nomeado de "Mal do Século".
D
Ao demonstrar a condição do negro nos navios negreiros, o poeta indaga quem são esses seres no navio, e ele mesmo responde fazendo uma confrontação: antes eram homens livres (andavam nus), bravos, desafiavam os tigres ferozes e se tornaram míseros escravos, que não eram livres nem para morrer. Dessa forma, podemos dizer que o poeta reflete sobre a condição humana.