Iracema, de José de Alencar.
Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.
De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d’alma que da ferida.
(...)
A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida; deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada.
O guerreiro falou:
– Quebras comigo a flecha da paz?
– Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu?
– Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus.
– Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema.
Rosinha, minha canoa, de José Mauro de Vasconcelos.
Achava-se contente da vida, pescando e salgando o seu peixinho, quando a canoa do índio atracou na praia.
– Que é que foi Andedura?
Andedura sungou a canoa na areia.
– Zé Orocó, tem lá um home. Diz que é dotô. Quando dá fé é mesmo, purque ele tem uma mala cheia de ropa e outra cheia de munto remédio.
– E que é que ele quer comigo?
– Sei não. (...) Tu vai?
O coração de Zé Orocó fez um troque-troque meio agoniado. Franziu a testa, tentando vencer, afastar um mau pressentimento.
– Como é que é o homem?
Grandão, meio laranjo no cabelo. Forte, sempre mudando a camisa pur causa do calô. Se tira a camisa, num güenta “mororã” purque tem pele branquinha, branquinha. Peitão meio gordo, ansim que nem ocê, cheio de sucusiri. Quano chegô, tinha barriga meio grande, mais parece que num gosta munto de cumida da gente; tá ficano inxuto. Eu pensei que ele fosse irmão daquele padre Gregoro, que pangalô aqui pelo Araguaia já vai pra uns cinco ano ...
Feito o retrato o índio descansou ...
Em Iracema, Alencar traz como personagem central uma índia.
a) Como se define a personagem Iracema, mulher e índia, em relação ao movimento literário a que pertenceu Alencar?
b) Os vocativos presentes nas falas de Iracema e do moço desconhecido permitem analisar como cada um deles concebia o outro. Transcreva esses vocativos do texto e explique a imagem que Iracema tinha do desconhecido e a imagem que ele tinha de Iracema.